Comprava o
jornal todos os Domingos. O Dono da Tabacaria não fechava ao sétimo dia. Vens
comigo à missa? Perguntava-lhe a mulher. Não. Vou buscar o jornal. Ela ficava
ali, de véu quase branco rolando entre as mãos. Fazia-te bem homem. Quando
morrer ajusto as minhas contas com Ele. E o véu rolando entre as mãos era
guardado na mala com um suspiro. Fazia-te bem homem. Não gostava de ler. As
letras miúdas do jornal ardiam-lhe na vista a pedir óculos há muito. Por isso
não havia livros em casa. Só a Bíblia, que a mulher lia todas as noites antes
de dormir. Depois, pousava-a na mesa-de-cabeceira, benzia-se duas vezes, três
se visse que ele estava com ardores e punha o lenço de cambraia para não
estragar o apanhado de cabelo, sempre impecável. Tenho saudade de te ver com o
cabelo caído, dizia-lhe ele quase sorrindo. Ela nem levantava os olhos do terço
que corria lesto e rotineiro por entre os dedos ásperos da cinza. Não gostava
de ler. É o jornal, Esteves? O Dono da Tabacaria guardava-lho por debaixo do balcão.
À porta estava a rapariga dos chocolates, sem nome e olhos vagos. Ficava ali, à
porta, a olhar para a Mansarda. Deixou a moeda no balcão. Só lia a página dos
mortos. Para saber quem ia e quem ficava. Sempre que podia ia aos funerais,
mesmo que não conhecesse o defunto. Mais triste que a solidão em vida, é a
solidão da morte. Por isso cumprimentava toda a gente. Talvez assim não se
esquecessem do seu enterro. O pai, que morrera fulminado por um ataque de
fúria, não tivera ninguém para além dele e da mãe. Que o coveiro e o padre não
contam. Por isso ia a todos os enterros que podia. Devias ter ido hoje comigo,
dizia-lhe a mulher sentada à beira da cama enquanto atava o lenço. Foi bonito o
sermão. Ele olhava-a. Tenho saudades do teu cabelo. Fazia-te bem homem. Ele
aconchegava-se na cama. Foi alguém a enterrar hoje? Perguntava-lhe a mulher. Foi. As pessoas eram tantas
que ficaram à porta do cemitério. Ela suspirou. Um homem de Deus. Não,
retorquia ele enquanto apagava o candeeiro a petróleo. Um homem de bem.
Tarte de dois chocolates com molho de café
4 gemas
7 claras
1 tablete de chocolate preto
1 tablete de chocolate branco
125g de açúcar
75g de manteiga
100 ml de natas
6 folhas de gelatina
200g de bolachas de chocolate
80 g de manteiga derretida.
Demolhe as folhas de gelatina em água fria.Derreta o chocolate preto com a manteiga, em banho maria, junte a esta mistura metade das folhas de gelatina e envolva bem. Bata as gemas com o açúcar e misture o chocolate derretido. Bata as claras em castelo e adicione à mistura, metade das claras, envolvendo cuidadosamente. Leve ao frio para prender um pouco.
Derreta o chocolate branco com as natas em banho maria, junte as restantes folhas de gelatina e envolva as restantes claras.
Pique as bolachas de chocolate e junte a manteiga até obter uma pasta areada. Forre o fundo de uma forma de mola com esta mistura. Deite por cima a mousse de chocolate preto e depois a mousse de chocolate branco. Leve ao frio por umas horas.
Molho de café
300ml de café expresso forte
100ml de água
100g de açúcar
Leve o café, a água e o açúcar num tachinho ao lume e deixe ferver em lume brando até reduzir para 1/3 do inicial.
Sirva a tarte com o molho de café
quero uma fatia dessa tarte se faz favor!
ResponderEliminarAi que foto tão tentadora!!
ResponderEliminarQue tentação! Uma tarte muito gulosa sem dúvida.
ResponderEliminarque aspecto... não sei se babe pelos 2 chocolates se pelo molho de café hmm
ResponderEliminarAHAAAAAAAAAAA babei, apetece roubar do ecrã e tricar :)
ResponderEliminarA personagem do valter em "a máquina de fazer espanhóis" e antes de Fernando Pessa, no poema "A Tabacaria".
ResponderEliminarSim, Claudia. O Esteves sem metafísica, saído da Tabacaria de Álvaro de Campos. Este texto, foi um de 3 (a pequena dos chocolates, já publicada em baixo) que escrevi para o espectáculo de dança e teatro, que se realizou no Festival do Chocolate de Óbidos, o ano passado.
ResponderEliminarbjs
Humm.. que bela delícia!
ResponderEliminarbeijinhos
http://sudelicia.blogspot.pt/
Gosto da história, gosto da tarte, gosto da fotografia... :) gosto de tudo.
ResponderEliminarbeijinhos
Que linda!! Acho que vou levar a receita para os anos do meu irmão!
ResponderEliminarBeijinhos e boa semana!
Simplesmente adoro Álvaro de Campos! Fantástico mesmo! E esta tarte? Bem... Simplesmente sublime! A foto convida a meter o garfinho!!
ResponderEliminarBeijinhos