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sexta-feira, março 22

Maria Arminda



Saiu para sulfatar as primeiras flores do pomar. No próximo Domingo não o quero ver com essa camisa preta, dissera-lhe a filha mais velha  com mesmo tom de voz com que falava com os filhos. A Maria Júlia também vem? Não, a mais nova nunca vinha, saíra de lá, no cedo dos mais novos, para a cidade. Mandava pela outra irmã uma caixa de pasteis de nata e os móveis velhos desfeitos e pintados de outra cor. É artista, dizia ele aos outros que perguntavam por ela. Descia o carreiro para o pomar e quatro passos à frente dos dele as filhas, ainda pequenas, a correrem.  Não o quero ver com essa camisa, ouviu? Atrás dele, o silêncio da renda que a mulher nunca mais fizera, a crescer por entre o cheiro do almoço. A mais nova a cair no carreiro. Não chores, não chorava, e os mesmos olhos secos a fugirem do caixão aberto da mãe.  Vista uma camisa branca, aquela dos Domingos. Quantos Domingos tinha um ano de casa vazia? À volta do pomar, enquanto a abotoava a camisa branca, viu os pasteis de nata na mesa e a cadeira vazia pintada de um azul que destoava da madeira desbotada das outras cadeiras. A filha mais velha ajeitou-lhe o colarinho, ora se não está melhor assim, e ele a repetir baixinho o nome da mulher, Maria Arminda, Ma-ri-a-ar-min-da, o que diz, está a rezar?  Ele sorriu com os dentes que já não tinha, pelo menos as letras dos nomes não mudam de cor.

Pastel de Nata desconstruído



1 l de leite 
1 casca de limão 
6 de gemas 
150gr de açúcar
50gr de amido de milho 
50gr de farinha 
açucar em pó 
canela 

Aqueça o forno a 250º. Com o rolo, estenda a massa, pique-a levemente com um garfo e coloque-a entre duas placas de forno. Leve a cozer durante 15 minutos. Deixe arrefecer e corte-a em rectângulos iguais. Reserve.
Num tacho, ferva o leite com a casca de limão.
Deixe em infusão durante 10 minutos. Misture bem as gemas com o açúcar, a maisena e a farinha e adicione gradualmente o leite, sem parar de mexer. Deite de novo no tacho e leve ao lume até espessar. Cubra com película aderente para não secar e reserve.
Com o saco de pasteleiro, cubra 4 rectângulos de massa folhada com creme. Repita este processo até obter 3 camadas.
Polvilhe a superfície com o açúcar e queime com um maçarico. Polvilhe com canela e açucar em pó.

Receita de José Avillez retirada daqui 




11 comentários:

  1. A receita é de José Avillez e a ideia é genial! Um pastel de Nata desconstruído, como é que nunca tinha pensado nisso!

    Não deixando de ser um folhado de nata, tem uma apresentação completamente diferente, mas sem deixar de lembrar o pastel de nata.

    Muito bem desconstruído e construído :). Delicioso!

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  2. Sim, Doces em Casa a receita, tal como na referência no fim da receita indica, é do José Avillez.

    E mal a vi no blogue in the mood for sweets pensei que a tinha de reproduzir :)

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  3. Um texto de deixar um nó na garganta e uma sugestão deliciosa que vou experimentar. Adorei. Beijos com carinho

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  4. Fiquei a babar-me! Que delicia.
    Beijinhos e um bom fim de semana :)

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  5. Gostei muito deste pastel de nata desconstruído.
    Bjns
    Isabel

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  6. Não sei se no seu blog gosto mais da parte de ler ou da de comer :) E o seu post de hoje não acaba com a indecisão. Um texto maravilhoso e uma, também, maravilhosa desconstrução do pastel de nata.
    Parabéns!

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  7. bela desconstrução.

    beijinhos Cristina

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  8. Gostei verdadeiramente desta receita! Para dizer a verdade, AMEI! Parece ser bem mais simples, por incrível que pareça nunca me saem bem os pasteis, quer-me parecer que assim talvez consiga :-)

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  9. E fizeste muito bem em reconstruir a receita do Avillez!!
    Está simplesmente maravilhosa!!!
    Adoro esta pastel de natal!!
    Beijinhos,
    Mena.

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  10. Como a menina cá de casa disse ao ver a receita "que ideia brutal!!!, temos de destruir um por cá também."
    Gostei muito e ficou guardado no caderninho para uma receita próxima. Bjs Margarida e Carolina

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  11. Mas quem se lembraria de pastéis de nata em versão vertical?!

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