Cuspia no chão sempre que passava pelo padre da vila. Tirava a velha boina
basca, pousava-a sobre o lado esquerdo do peito, aquele onde acreditava ter o
coração, e cuspia. E ficava, hirto, de boina ao peito e de olhos fixos no padre
que atravessava a estrada. És doido, diziam abanando a cabeça. Não, respondia.
Sou um homem de fé. E as mulheres de negro benziam-se. Ou beijavam a
cruz, se a trouxessem ao peito. O que sabes tu de fé, homem? Tu que cospes aos
homens de Deus? E ele guardava a boina no bolso das calças e lembrava-se.
Lembrava-se da tia, que sempre fora velha, e que acreditava que era a
humidade da igreja que lhe causava a bronquite. Mas ainda assim, levantava-se
cedo todos os Domingos para fazer a canja com hortelã e leite creme para o almoço, que Deus-nosso-senhor, tudo vê e tudo sabe, é maior que
todas as maleitas. Que sabes tu de fé homem? Tu que dois dias depois de fazer
nove anos, na missa de Domingo, cuspiste ao padre, quando te estendeu o cesto
das oferendas? Ficara sentado de rosto e orelhas ardendo pela mão envergonhada
da mãe, esperando que Ele viesse, Ele, que tudo via e sabia, teria de vir cheio de fúria divina. Mas não viera. O que sabes tu
de fé, homem? És doido, diziam na vila.
E ele sorria e dizia baixinho: Tenho é fé. Que o sacana ainda um dia me aparece.
Deserto do Mundo, Março de 2011
Leite creme de laranja
400ml de leite
200ml de natas
6 gemas
2 colheres de sopa de farinha de trigo
160g de açúcar
1 colher de sopa de licor de laranja
Casca de uma laranja
Leve o leite e as natas ao lume com a casca da laranja até levantar fervura. Retire do lume e deixe repousar uns 15 minutos. Bata as gemas com o açúcar, a farinha e o licor. Junte o leite leve ao lume até engrossar.
Deite em recipientes baixos e deixe arrefecer completamente Polvilhe com açúcar e queime com um maçarico ou ferro de queimar.