Tinha trejeitos nas frases de quem
ouvia Maria Bethania e cheirava a gel de banho comprado em comércios
fronteiriços. É divorciada, diziam as outras mulheres do prédio, todas muito
iguais, todas as cheirar a sabonete. Na pastelaria do bairro, onde essas outras
mulheres compravam ducheses e outros bolos excessivos, ela pedia sempre o
mesmo, uma italiana e uma fatia de tarte de amêndoa. Para embrulhar. O rapaz do
balcão, que deixara crescer o bigode para parecer mais velho, fazia-lhe um
embrulho no papel com logótipos azuis e vermelhos e punha-o em cima do balcão.
Ela acendia o cigarro com as mãos em concha e sorria-lhe com os olhos sem
rímel. Na minha terra chama-se picado de abelha, dizia ele. O sorriso dela
escorria-lhe até aos lábios. Deitava a cinza na beira do pires e tirava com a outra
mão as moedas para pagar. Deixava a mão esquecida em cima do balcão e ele
pousava a dele por cima. Acho que punham mel no caramelo. O sorriso dela
cobria-lhe o corpo todo, desviava o rosto para expelir o fumo e depois de
fazerem um silêncio de um minuto, dizia
sem o olhar, a chave continua debaixo do tapete.
Tarte de amêndoa
Massa:
100g de açúcar
100g de manteiga sem sal
225 g de farinha
1 ovo inteiro
3 colheres de sopa de leite
Pitada de sal fino
Caramelo
150 g de amêndoa laminada
100g açúcar
100g manteiga
3 colheres de sopa de leite
Bata o açúcar com a manteiga até
ficar bem cremoso. Junte o ovo e o leite. Bata. Envolva a farinha e o sal. Leve
a forno pré-aquecido a 200º durante 10 minutos. Entretanto faça o caramelo.
Leve o açúcar, a manteiga e amêndoa ao lume, até caramelizar. Retire do lume e
junte o leite. Deite por cima da massa e leve ao forno por mais 10 minutos.
Receita adaptada de Sabores de Canela