Chegam todos os dias à mesma hora. Como se o tempo se perpetuasse com o cumprir das horas. Sentam-se, de casacos vestidos em roda da mesa. Falam de coisas passadas e daqueles já morreram. A morte bebe café com eles e eles consentem, sabendo-a ali, por cima dos seus ombros curvados pelas artrites. Falam dela como se a desafiassem. Ela ignora-os, na sua espera vazia de credos e religiões. Há sempre um deles que se queixa do frio. Outro da ausência dos filhos. Ambas doem no corpo. Há dias que se mantêm ali, calados, olhando a senescência das folhas, à qual já chamaram Outono. São os dias em que contam menos um entre eles. A rapariga do café sabe que nesses dias os cafés do costume não são suficientes e traz-lhe pequenas tigelas com doce de ovos. Que com a idade os velhos ficam gulosos. Fica ali, vendo-os comer em colheradas pequeninas, com medo das nódoas, pensado que cada vez traz menos tigelas de barro. E aos lamentos de gripes e dores nos ossos responde com a impaciência de quem ainda acredita que o tempo não termina. Isso passa quando os dias quentes chegarem.
Doce de ovos com laranja e canela
10 gemas
250g de açúcar
200ml de água
Raspa de 1 laranja
2 paus de canela
Leve o açúcar, a água, a raspa de laranja e a canela a lume brando até fazer ponto de fio. Retire do lume e coe por um passador. Junte as gemas desfeitas e leve de novo a lume muito brando até engrossar. Sirva frio em tacinhas .