O seu maior sonho era ter uma casa por cima de uma loja de antiguidades. Daquelas que têm uma janela debruçada sobre um rio qualquer e nas quais passam estórias e conversas por entre tabaco e livros de páginas amarelas nos cantos. E ficava a imaginá-la assim, sempre que a vestiam de virgem Maria, nos presépios vivos da terra, de olhos azuis quase verdes postos para além das tias fartas e de pernas inchadas que lhe acenavam com orgulho. És a cara da tua mãe, dizia-lhe a tia com ar desgostoso enquanto lhe fazia canudos com o frisador de pontas ferrugentas. És toda ao lado dela. Da mãe ficara-lhe apenas a vaga recordação do português arrastado pelo sotaque inglês e o sabor do lemon curd que punha nas torradas. Sem fotografias nem uma morada para onde escrever, ficara apenas com a receita do creme de limão escrita em letra miúda e descuidada que fazia no velho fogão da casa das irmãs do pai sempre que as saudades voltavam. Bastava-lhe isso. Isso e o sonho de ter uma casa por cima de uma loja de antiguidades. E imaginava-lhe os cantos, ao mesmo tempo que as luzes de Natal da praça da vila se acendiam. Talvez à mesma hora que o dono da loja de antiguidades estaria a fechar as portas da loja e a pôr a mão em pala para ver o pôr do sol sobre a foz do rio.
Lemon Curd
125g de manteiga
Raspa e sumo de 3 limões ( aproximadamente 120 ml)
225g de açucar
3 gemas
Misture as gemas com o açúcar , o sumo de limão e a raspa (apenas a parte vidrada do limão) numa tigela que possa ir ao lume em banho maria. Leve a banho maria e vá adicionando a manteiga em cubos pequenos. Mexa sempre até engrossar (este processo pderá levar cerca de 30 minutos)
Coe o creme e guarde num frasco no frigorífico ( conserva-se até duas semanas)
O lemon curd pode ser utilizado como compota ou recheio de bolos ou tartes.