O seu maior sonho era ter uma casa por cima de uma loja de antiguidades. Daquelas que têm uma janela debruçada sobre um rio qualquer e nas quais passam estórias e conversas por entre tabaco e livros de páginas amarelas nos cantos. E ficava a imaginá-la assim, sempre que a vestiam de virgem Maria, nos presépios vivos da terra, de olhos azuis quase verdes postos para além das tias fartas e de pernas inchadas que lhe acenavam com orgulho. És a cara da tua mãe, dizia-lhe a tia com ar desgostoso enquanto lhe fazia canudos com o frisador de pontas ferrugentas. És toda ao lado dela. Da mãe ficara-lhe apenas a vaga recordação do português arrastado pelo sotaque inglês e o sabor do lemon curd que punha nas torradas. Sem fotografias nem uma morada para onde escrever, ficara apenas com a receita do creme de limão escrita em letra miúda e descuidada que fazia no velho fogão da casa das irmãs do pai sempre que as saudades voltavam. Bastava-lhe isso. Isso e o sonho de ter uma casa por cima de uma loja de antiguidades. E imaginava-lhe os cantos, ao mesmo tempo que as luzes de Natal da praça da vila se acendiam. Talvez à mesma hora que o dono da loja de antiguidades estaria a fechar as portas da loja e a pôr a mão em pala para ver o pôr do sol sobre a foz do rio.
Lemon Curd
125g de manteiga
Raspa e sumo de 3 limões ( aproximadamente 120 ml)
225g de açucar
3 gemas
Misture as gemas com o açúcar , o sumo de limão e a raspa (apenas a parte vidrada do limão) numa tigela que possa ir ao lume em banho maria. Leve a banho maria e vá adicionando a manteiga em cubos pequenos. Mexa sempre até engrossar (este processo pderá levar cerca de 30 minutos)
Coe o creme e guarde num frasco no frigorífico ( conserva-se até duas semanas)
O lemon curd pode ser utilizado como compota ou recheio de bolos ou tartes.
11 comentários:
Quando nada se tem o pouco parece muito!
Ver o pôr do sol sobre a foz do rio e esse dourado do lemon curd abaixo...
alumbram, Cris.
Beijocas!
Hoje falei em si no meu poiso a propósito dum texto seu de agosto de 2007 (Sou muito organizado) chamado Isabel ainda publicado no Mrs Pankurst, que foi cancelado.
Disse que foi o primeiro texto que me comoveu imenso, gostava de o reler e acho que ficava muito bem aqui acompanhado dum docinho. (Logo eu que sou um guloso compulsivo)
Em tempo de memórias, boas e menos boas, trazes aqui uma que me é particularmente doce. Hei-de fazê-lo um dia destes. E comê-lo com torradas... ou com 'sem nada'.
:)))
Porque são estas estórias sempre tão curtas... ficamos sempre a querer saber mais!
Gosto imenso da receita de hoje, aqui n passamos sem torradas com lemon curd e chá, especialmente no ao lanche de fim-de-semana nos dias frios e escuros que temos.
um abraço e até breve
Uma bela receita
para sonhar por mais
confesso que gosto de ler as histórias que dão azo às receitas.
sempre tão inovadoras.
um beij
O meu era viver sobre uma papelaria :)
Gostei imenso, Cristina.
Engraçado, Cristina, o meu lemon curd é muito diferente deste. Leva os ovos inteiros e as proporções são diferentes. Não sei se é por isso, mas dura meses no frigorífico (não sei quantos, porque desaparece antes de eu saber qual seria o limite...).
Olá Ana
Duvido que esta receita se preserve nas suas totais condições para além das 3 semanas. Tem de me dar a sua receita para experimentar ;)
bjs
Sempre me encantam estes belíssimos excertos, e que maravilhosa companhia para esta coalhada! Ai e como eu adoro coalhada de limão!
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