sexta-feira, novembro 29
Lá fora
Lá fora havia um ninho. Não acordem os pássaros e eles com os pés descalços na erva orvalhada. Não acordem os pássaros, a mãe sentada lá fora onde moravam agora os pretéritos e tudo o que nunca fora. Lá fora ainda eram cinco e a mãe. Ainda eram crianças e o mundo era demasiado grande para caber nos olhos. Era o aconchego, o princípio de tudo, que tantas vezes é apenas a primeira página de qualquer coisa. Lá fora ficaram as histórias contadas na voz morna que ainda pingava no soalho de dentro. Que o luto se faz por entre a angústia das paredes. Que umas vezes são pedra, outras vezes são apenas um retalho baço de memória. Havia um ninho, o cheiro da mãe, que não tinha perfume mas sim palavras, a música que cessou depois dos sete palmos. Restara apenas uma porta para lá fora, onde, dizem, se desenhou a primeira palavra da história: mãe.
Texto inserido na exposição Bolota, 1/4 adiante
(A partir de 30 Novembro a 26 de Janeiro no Museu da Cerâmica das Caldas da Rainha)
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2 comentários:
Já tinha saudades!
Tão bom terminar a semana com "poesia" na blogosfera.
Um abraço,
Guida
Muito lindo esse texto,gostei bastante. Desejo-te tudo de bom e muito sucesso!! Beijinhos fofinhos e que o mês de dezembro te traga imensas alegrias.
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