As estórias dele só poderiam
ter acontecido lá. Porque tinham um lugar. Um cheiro. Um céu. As dela podiam
ser em qualquer parte do mundo. As estórias dele não cabiam no velho saco da
TAP. Transbordavam, sempre que ele guardava lá dentro mais um objecto inútil, daqueles que esperam serem úteis um dia.Nunca eram. As estórias dela cabiam,
arrumadas, no álbum de fotografias. Todas elas tiradas dentro de casa, todas
elas cheiravam a quotidiano. A roupa estreada, a receita levada em travessa de enxoval ao lanche com as pessoas de sempre. Ele todos os dias olhava para o velho saco
da TAP, arrumado no canto escuro da dispensa. Continua cheio, pensava. E para
que não transbordasse, por vezes desdobrava as suas recordações em forma de
estórias. Que tinham rectas intermináveis e jacarandás em flor. Que sabiam a
cerveja e conversas ao fim da tarde. Ela por vezes lembrava-se do seu álbum. Já
lá não cabe mais nada. O retorno já foi feito, pensava. E encolhendo os ombros,
dizia. Nunca me dei bem com o calor de lá .
(Deserto do Mundo, Março de 2010)
Lembrei-me desta história
enquanto esperava pacientemente que o doce de leite fizesse ponto. A baunilha e
a lentidão do tempo têm destas coisas.
Doce de Leite
1 litro de leite gordo
500g de açúcar
1 vagem de baunilha
1 colher de café de bicarbonato
de sódio
Leve o leite, o açúcar e a
baunilha ao lume. Quando levantar fervura adicione o bicarbonato ( tenha o
cuidado de fazer isto num tacho grande, porque a reacção faz aumentar o
volume). Leve novamente ao lume, muito brando, até fazer ponto. ( Ao fim de
cerca de 1h e 30 minutos )