As duas mulheres da mesa ao lado falam da vida dos outros. Falam com as certezas de quem não sabe nada. De quem não conhece a vida para além do que parece. Há uma terceira que atravessa as arcadas. Aproxima com um sorriso débil, quase a pedir desculpa. Tudo bem? As outras dizem que sim. Ela diz que não, arrastando a voz na tristeza dos dias. As outras esboçam um sorriso em troca do silêncio de quem não sabe o que dizer. Senta-te. Não, o autocarro está quase aí. Olham as três para o desconforto da rua vazia. Os olhos da mulher de pé escorrem dos cones de jornal que o homem das castanhas enrola, para o chumbo do céu que dissolve no rio. As outras tomam-lhe o peso dos dias no cabelo mal pintado e nas unhas roídas. Mexem as colheres nas chávenas, agitando o silêncio húmido dos olhos dela. Não, não está tudo bem. Mas as certezas dos outros são surdas. A mulher despede-se com o mesmo arrasto triste com que chegou. Atravessa a rua e pede uma dúzia de castanhas. Bem-haja, diz-lhe o homem. As mulheres sentadas retomam a conversa sobre a vida dos outros. Uma delas suspira. É a vida.
Castanhas caramelizadas
300g de castanhas congeladas
125 g de açúcar
40g de manteiga
Leve a manteiga e o açúcar ao lume até fazer um caramelo dourado. Junte as castanhas e deixe-as caramelizar durante 5 minutos. Deite-as numa rede e deixe-as arrefecer
Receita adaptada de Vaqueiro