segunda-feira, dezembro 30

Possível pensamento tido antes da meia noite.



Doze, come duas a duas que custa menos. Dez, porque são para a boa sorte. Oito, lá fora a transparência de mais uma noite. Seis, cá dentro a desenhar janelas para um tempo que nunca seria seu. Quatro, os verbos a descobrirem-se circulares. Dois, as doze passas ainda cerradas não mão. Não as comes?  Assim perdes os desejos.  Paciência. Nunca gostei de passas. 

sábado, dezembro 21

Vidro azul

Os enfeites de lá eram guardados numa caixa diferente. Talvez por serem de vidro, tão frágeis quanto as recordações contadas por meias palavras. Quando, ao abrir a caixa, se descobriam os fragmentos de algum que tivesse partido, o meu pai dizia com um encolher de ombros resignado: Mais um. E o tempo contava-se pelo número de cacos de vidro colorido. Quando se partiu o último, que era azul, teriam passado quinze anos do retorno e o meu pai disse: Foi o último. E dentro da caixa dos enfeites de lá passou-se a guardar um presépio comprado numa qualquer rua de Algés. Nunca lhes dei importância, eram apenas enfeites de vidro pintado. Pensava eu. Hoje, inexplicavelmente, consigo lembrar-me de todos os pequenos detalhes da tinta branca sobre o vidro azul. E também dos dedos longos e excessivamente brancos da mão do meu pai pendurando-os na árvore, juntamente com as memórias de lá.