terça-feira, abril 23

33 rotações


Gostava de construir uma estória das minhas à volta de ti. Uma daquelas estórias onde os diálogos são fáceis, as palavras ditas, sempre ditas e nunca reféns do silêncio. Esse silêncio que toma como certo um tempo que nunca se sustêm naquele ponto, naquele momento que nunca retorna. Chamam-lhe presente, mas para os reféns do silêncio, como eu,  será sempre passado, pretérito, ou simplesmente o que nunca foi.  Gostava de construir uma estória das minhas com os retalhos das memórias que ficaram espalhadas em cima de um mesa qualquer, a perderem a cor, que não devemos deixar as fotografias à luz nem lhes pôr os dedos em cima. Gostava de te dizer que o teu rádio já funciona, os teus discos já tocam de novo, que a minha vida segue agora outro caminho, e que fiz hoje aqueles doces que tanto gostavas, bons para acompanhar o café
(não ouves o chiar da cafeteira italiana?). Depois sentavas-te nessa cadeira imaginária que a saudade traz sempre com ela e eu dir-te-ia que os diálogos não têm de começar sempre com um parágrafo e travessão.



Brisas do Lis



8 gemas
2 ovos inteiros
250 g de açúcar
100 ml de água
100g de amêndoa
1 colher de sopa de manteiga derretida


Leve o açúcar e a água num tachinho ao lume até fazer ponto de pérola. Retire e deixe arrefecer. Misture os ovos, as gemas e amêndoa. Junte a calda e a manteiga. Unte forminhas de queque ( pequenas) com manteiga e polvilhe-as com açucar. Encha-as até 2/3 e leve a forno pré-aquecido a 200ºg durante cerca de 15-20minutos, num tabuleiro com água quente ( esta não deverá passar metade da altura das formas)
Deixe arrefecer e desenforme.

quarta-feira, abril 17

Pensamento que podia ser um monólogo no Café.



Temo-nos em grande importância. Talvez para nos esquecermos que somos todos demasiado iguais: somos todos o homem que sai nas Picoas e que pensa, amanhã mudo de vida. Somos a mulher  que apaga  nas fotografias digitais o pavor do tempo. Somos o velho que ainda tem medo de morrer ou a criança a quem disseram que a relva não se pinta de azul, porque azul é o mar. Peço um café, como tantos outros pedem neste preciso momento. Curto, sem açúcar. E penso, enquanto bebo o meu café numa chávena igual à dos outros, maldita surdez esta que nos faz ter em grande importância.

Torta Tiramissu




4 ovos
4 colheres de sopa de açúcar
4 colheres sopa de farinha
1 café expresso bem forte
½ receita de creme de tiramissu
Cacau para polvilhar

Bata os ovos inteiros com o açúcar até ficar um creme bem fofo. Junte a farinha e envolva cuidadosamente. Deite num tabuleiro forrado com papel vegetal pincelado com manteiga derretida e leve ao forno a 180º durante cerca de 15 minutos. Deixe arrefecer um pouco, pincele com o café e  cubra com o creme de tiramissu e enrole. Antes de servir polvilhe com cacau em 

100 000



E já são mais de 100000 as visitas desde que a Confeitaria abriu as portas. Obrigada, por este número redondo. Obrigada por terminarem as estórias com as vossas leituras. Só assim ficam completas.



quarta-feira, abril 10

36 e meio



Todas a sextas de manhã era o mesmo. O corpo doía-lhe da pancada que ele lhe dava. Da pancada no corpo e da outra que ainda ia mais fundo, nódoas mais negras por ser invisíveis. Mal havia luz do dia, ela levantava-se devagarinho e sem gemer. Para não o acordar. Para não o ver chorar e prometer-lhe que não voltava a acontecer. Lavava-se, vestia-se e corria para a sapataria que ficava em frente à repartição de finanças onde trabalhava. E lá estavam eles. Vermelhos, sem preço.  Que as coisas que nos descansam os olhos não têm preço, dizia ela. E onde ias tu com uns sapatos daqueles, mulher? Perguntava-lhe a colega  de cabelo oleoso, que se enchia de bolo de chocolate trazido de casa em caixas de plástico. Até ao fim do mundo, respondia. Até que numa sexta feira, daquelas sem movimento, uma mulher que já fora bonita pediu-lhe baixinho  a  guia para pagar o selo do carro. Ela levantou os olhos do teclado do balcão e viu-lhe o rosto negro e amassado, que se tentava  dissolver na madeira do balcão. Fez um sinal à colega de cabelo oleoso. Um sinal com a mão, porque o nó da garganta não a deixou falar. Para que ficasse no lugar dela um bocadinho. Penhorou a aliança e correu até à sapataria. Ficam-lhe um bocadinho largos, mas não fazemos meios números, disse-lhe o empregado. Pediu uma palmilha de cortiça. Assim assentam-me como uma luva. Dizem, quem ainda a viu a dobrar a esquina, que apanhou o comboio das dez e um quarto.


Bolo de chocolate e avelã



200g de chocolate em barra
100 g miolo de avelã moído
150 g de manteiga
150 g de açúcar
200g de “nutella”
6 ovos
4 colheres de sopa de açúcar
2 colheres de sopa de licor de avelã
Pitada de sal

Derreta o chocolate em banho maria. Bata a manteiga com o açúcar. Junte-lhe a pasta de nutella ( convém estar à temperatura ambiente). Junte as gemas uma a uma batendo muito bem. Junte  o chocolate derretido, o licor de avelã, o miolo de avelã e o sal. Bata as claras em castelo e junte-lhes as colheres de sopa de açúcar para obter um merengue. Leve numa forma redonda. forrada a papel vegetal a forno pré-aquecido a 150º durante cerca de uma hora.


Receita adaptada daqui

quarta-feira, abril 3

Quente




Quando ele lhe perguntou de que é se arrependia de não ter feito, ela  respondeu-lhe: de nunca ter ido a Praga na Primavera e de nunca se ter sentado num café na Rive Gouche. Dizem que se comem lá umas tartes  maravilhosas.  Aux framboises,  disse com um sorriso snob. Mas não é isso o mais importante na Rive Gouche, respondeu ele enquanto ordenava os livros de filosofia por ordem alfabética. Ela suspirou  enquanto ajeitava a madeixa de cabelos brancos que lhe teimava em cair para  rosto, engraçado que nunca me lembro da Primavera de Lisboa, só do Verão.

Tartes de framboesa merengadas



350g de framboesas congeladas
100g de açúcar
Sumo de 1 limão + 1 colher de sopa de água
1 colher de sopa de amido de milho
4 claras em castelo
10 colheres de sopa de açúcar
1 colher de chá cremor tártaro

Leve as framboesas, com açúcar num tachinho ao lume. Depois de levantar fervura deixe ferver em lume brando durante 5 minutos. Dissolva o amido de milho no sumo de limão e na água. Adicione às framboesas e deixe engrossar. Deixe arrefecer por completo.
Bata as claras em castelo com açúcar até obter um merengue bem espesso. Junte o cremor tártaro e bata mais um pouco.
Forre pequenas tarteiras com a massa quebrada, pique-as com o garfo e pincele-as com gema de ovo. Leve ao forno  ( pré- aquecido a 180º) até dourarem um pouco. Retire-as, deixe arrefecer e depois recheie-as com o doce de framboesa e cubra-as com merengue. Leve as tartes de novo ao forno ( aquecido a 130º) até o merengue ficar estaladiço.