quarta-feira, outubro 31

Pão por Deus


As mulheres  compunham as flores,  compradas cedo na praça, para pôr nas campas. O que são finados, mãe? São os mortos. É o dia dos mortos. Flores brancas, vermelhas não, que é falta de respeito. Nas nossas mãos, os sacos de pano bordados a ponto cruz. Pão por Deus, gritavam  as minhas primas à porta dos outros, que podiam ser vizinhos. Eu,  atrás delas na estranheza de quem só conhecia ruas com prédios. Pão por Deus, o meu pai a queixar-se do frio e da humidade. Por esta altura, começava lá o calor.  Os sacos de pano a encherem-se de erva doce em forma de broas e castanhas cozinhas. E passas, não gosto de passas, dizia eu baixinho. Pão por Deus, nós a corrermos por ruas onde não passavam carros. Nas paredes dos armazéns  havia homens pintados que pediam a reforma agrária.  As sombras compridas no chão de alcatrão gasto, e o meu pai queixar-se do frio enquanto esfregava as mãos com saudades da terra de lá. Passávamos pela casa grande. Não pedimos aqui?  Os sacos cheios de broas, as mulheres a descerem a rua com ramadas de flores,  e nós à porta da casa grande, com as suas paredes velhas  e cor de rosa que não se gastavam com o tempo.  Dantes saíam daqui, tabuleiros de bolos para os pobres, dizia o meu tio  enquanto descascava uma castanha, que o dia de hoje era dia de caridade com bolos. E nós ao portão da casa grande, maior que as outras novas casas grandes cobertas de azulejos. Não pedimos aqui? Não. Fugiram todos para o Brasil.


Creme gelado de castanhas com molho de chocolate


250 g castanhas
230g de açúcar
200g de manteiga amolecida
6 gemas grandes
1 colher de sopa de brandy
leite q.b
100g de chocolate
70 ml de natas


Leve as castanhas ao lume, cobertas por leite e cozer até ficarem moles. Deite o leite e as castanhas ( vá juntando o leite aos poucos) num copo misturador, até obter um puré homogéneo. Bata este puré com as gemas, a manteiga, o brandy e o açucar durante pelo menos 20 minutos. Leve ao congelador durante 8 horas ( idealmente 12).

Para o molho
Leve o chocolate com as natas ao microondas durante cerca de 1 minuto na potencia máxima, parando de 20 em 20 segundos para mexer. Deite o molho ainda quente sobre o gelado




terça-feira, outubro 30

Da inspiração




Andava descalça no chão de tábua corrida. Que quase não chiava quando atravessava, em bicos dos pés,  os vinte passos que separavam o corredor escuro da janela do quarto.  Sentava-se em cima da arca velha, aquela onde guardava o enxoval que nunca usara, e que servia de banco debaixo do parapeito. Cruzava as pernas sobre os joelhos e inalava o cheiro  a quase-especiarias da madeira exótica da arca.  Da janela de quadrados de vidro, olhava a rua  que corria debaixo dos pés dos outros.  Sobre as pernas um caderno cheios de rascunhos de sonhos. Levantava a guilhotina de madeira branca e deixava a manhã entrar. E os primeiros sons da cidade arrastavam-lhe a mão pelo branco áspero.  Com a outra limpava as gota de sumo, da pêra que ia trincando, e que lhe esborratavam a tinta das letras.  Até que lhe faltava sempre uma palavra, a que antecedia o fim da ideia. Então, parava, deitava o caroço roído no lixo, fechava o  caderno depois da janela e antes de fazer de novo os vinte passos de tábua corrida dizia, amanhã compro uns chinelos.

Pêras em calda de especiarias e moscatel



4 pêras rocha
2 cravinhos
4 vagens de cardamomo
1 pau de canela
1 vagem de baunilha
100 g de açúcar amarelo
2 colheres de sopa de vinho Moscatel

Descasque as pêras  descaroce-as e reserve as cascas. Coloque-as num tacho cobertas com água, o açúcar  as cascas e as especiarias ( esmague os cardamomos e abra a vagem de baunilha, raspe as semente e coloque-as juntamente com a vagem no tacho). Deixe levantar fervura e depois baixe para lume brando até as pêras estarem cozidas mas ainda firmes. Retire as pêras e coe a calda. Leve-a de novo ao lume, juntamente com o vinho Moscatel  e deixe reduzir até metade. Sirva as pêras frias, regadas com esta calda



sexta-feira, outubro 26

Familia


Os dois irmãos e as duas cunhadas vinham sempre para o almoço de  Domingo, que raramente acontecia ao Domingo mais sim ao Sábado.  Ao principio pensou-se que seria por causa da hora da missa, a qual por a mãe nunca falhar, poderia atrasar o servir do almoço. Mas depois verificou-se que apenas tinha a ver com o dia da praça e a frescura dos legumes. Os dois irmãos e as duas cunhadas  vinham sempre para o almoço de Domingo e a mãe servia sempre a carne assada e a acompanhar um soufflé murcho e gorduroso. Os dois irmãos e as duas cunhadas, sentavam-se à volta da mesa que tinha mais de oval do que redonda,  separados pelos filhos de um, que o outro nunca tivera filhos. A mulher deste  era a mais calada, de uma magreza excessiva que ela perpetuava numa frugalidade zangada. Tão zangada como permanente cor  amarelada e escamada da pele do rosto, que diziam ser do tabaco. Mas que todos sabiam ser do azedume com  que nascera. A outra, tinha o rosto redondo, e excesso de palavras. A voz dela corria em ruído de fundo durante todo almoço. Ostentava um sorriso tão excessivo quanto a magreza da outra, que só desaparecia por detrás do guardanapo cheio  de nódoas de molho.  A magra revirava os olhos sempre que a gorda falava na sua voz  estridente e ansiosa. Daí que se calculasse que não gostavam uma da outra.  Depois vinha a sobremesa. A magra suspirava de enjoo enquanto a outra dizia, só posso comer um bocadinho, que estou de dieta. Todos sorriam. A mãe servia a mousse de chocolate em tacinhas de vidro de acastanhado.  É só mesmo um bocadinho, insistia.  O pai deitava rum ordinário na mousse para disfarçar o sabor do chocolate, de que nunca gostara. A magra acendia um cigarro. Não fumes à mesa, dizia um dos irmãos. E todos comentavam o quanto os irmãos eram parecidos. A mãe rapava a mousse para uma ultima taça e dizia, podiam ser gémeos.


Soufflé de Chocolate, rum e coco





100g de chocolate
3 +2 colheres de sopa de açúcar
40 ml de natas
2  ovos + 1 clara
1 colher de sopa de rum
Coco ralado para polvilhar

Pré-aquecer o fornoa 200ºC. Barrar forminhas  de soufllé com uma camada espessa de manteiga, polvilhar com açúcar, retirando o excesso. Levar ao frigorífico.
Colocar o chocolate as 3 colheres de sopa de açúcar numa tigela refratária sobre uma panela com água fervente e, mexer sempre, até o chocolate derreter. Retirar do lume e juntar as natas. Juntar a colher de sopa de rum Deixar o chocolate arrefecer por cerca de 5 minutos e, depois, uma a uma, bater as gemas.
Bater as claras e quando estiverem firmes, juntar o restante açucar até ficarem com ar brilhante.Envolver um quarto das claras no chocolate, e acrescentar delicadamente as claras restantes. Deitar a massa nas forminhas, colocar sobre uma assadeira e levar ao forno, durante cerca de 20 minutos Quando estiverem prontos retire-os do forno e polvilhe-os ainda quente com abundante coco ralado. Servir de imediato


Receita publicada para o desafio Dories às Sextas

terça-feira, outubro 23

Se Deus quiser.




Se Deus quiser. A mãe terminava todas as frases assim. Até amanhã se Deus quiser. Há-de ficar melhor, se Deus quiser. E sente a mão quente de dedos largos da mãe na sua.Os passos dela no mármore gasto dos degraus da Igreja. Tira lentamente o missal de capa preta, de onde pende uma fina fita de cetim castanha. Ajeita-lhe as pregas da saia, a gola engomada e com um gesto leve do queixo anguloso manda-a sentar. O cheiro das velas. É o filho do vizinho de cima quem as acende. Quando se volta, olha-a e sorri. E enquanto o olhar lhe desce do rosto para o resto do corpo, o rosto da mãe sulca-se de rugas, os olhos cansam-se e sob a mesma renda preta os cabelos castanhos claros adoçam-se em tons de baunilha. A fita de cetim do missal perde o brilho. É mais um domingo à tarde. As senhoras de fatos compostos e vozes baixas vêm para o chá. Os cheiro amanteigado dos scones, entranha-se pastoso nas conversas feitas. Do outro lado da janela da sala, ele faz-lhe um sinal. Vou estudar um pouco, mãezinha. A boca dele cheira a tabaco e as mãos que lhe percorrem o corpo por debaixo das camisolas que a mãe tricota à mão, deixam um rasto morno de cera  Cheiras a bolos, diz-lhe ele. Ensinou-
a a beijar e a travar um cigarro. Luísa molha os lábios, abre a gaveta procurando o maço de tabaco escondido. Estiveste a fumar Maria Luísa? O rosto na mãe perto da sua boca, que ainda sabe à saliva dele. Que está pelo corpo todo. Não, mãezinha. Que eu não fumo. Nem nunca hei-de fumar. Se Deus quiser, não, Maria Luísa. Se Deus quiser, não.

In Deserto do Mundo



Scones


350 farinha sem fermento
80g de manteiga sem sal
170 ml de leite gordo
1 ovo
30 g  de açúcar
2 colheres de  chá fermento em pó
1 pitada de sal fino

Misture a farinha com o açúcar, o sal e o fermento. Corte a manteiga em cubinhos, que deverá estar bem fria, e deite na mistura de farinha. Esfarele tudo com a ponta dos dedos. Bata o ovo com o leite e misture. Não trabalhe muito a massa. Estenda a massa e corte como desejar. Pincele-os com um pouco de leite. Leve a forno pré-aquecido a 180º durante 15-20 minutos . Sirva-os quentes com manteiga ou compota.

sexta-feira, outubro 19

Lúcia ou uma estória simples.


As memórias são atalhos, pensei enquanto sentia o sabor de café com leite. Lembrei-me do cheiro que me tinha feito escrever esta história simples,em tempos. Lembrei-me de um sorriso descarnado que conheci em tempos e de uma casa de costura a transbordar de afectos. Partilho hoje esta história convosco.





Era uma casa velha. Com muros de granito cobertos de hera e tempo. O mesmo que se esboroava na paredes cor de rosa da casa. Onde viviam duas mulheres. Uma velha e outra sem idade, que se pensava ser nova. Mas nunca ninguém soubera a sua data de nascimento. Nem ela. Lúcia, era o nome dessa mulher sem idade, com rosto de criança. Sorriso descarnado, e pregas cobrindo os olhos pequenos. Quando se ria, cobria os dentes amarelados com as costas da mão, enquanto o corpo robusto se dobrava sobre o ventre. Lúcia, assim lhe chamara a velha. Desde o dia em que a trouxera do casebre onde vivia com os irmãos. A quem ela cantava para adormecer. Uma canção sem palavras. Sem princípio, nem fim. Sussurrada de boca fechada. Era a única fêmea de oito. Uma fêmea analfabeta, a quem o pai tapava a boca nas noites em que voltava a cheirar a vinho da taberna. Lúcia. Quantos anos tens, Lúcia? Ela encolhia os ombros e deitava os olhos pequenos e mortiços num tempo que já não vinha. Os irmãos dormindo ao seu lado. O corpo quente do pai, tapando-lhe a boca. E ela sussurrando a canção na esperança de adormecer. Não, não sabia quantos anos tinha. Nem quantos anos ficou naquela casa cuidando da velha. Que tinha um sorriso meigo. E não andava,  presa a uma cadeira de rodas que Lúcia empurrava, pelo carreiro de cimento do quintal. Pelo chão de tábua corrida, que chiava à sua passagem. Travava a cadeira e ajoelhava-se ao seu lado. A vê-la bordar com os dedos deformados e vermelhos. Ou a tentar ler a letra miúda dos livros que lhe faziam arder os olhos. Um dia a velha deixou de conseguir ler as letras miúdas. E quis que Lúcia aprendesse a ler. Para me leres os livros em voz alta. Disse-lhe. Mas Lúcia não quis. As letras eram vazias. Preferia ver as fotografias a preto e branco do tempo em que a velha ainda andava e tinha o cabelo preto. Eram quadrados de papel onde o tempo para além de ser lustroso não corria para parte alguma. Estas também contam estórias. Dizia-lhe. E não fazem arder os olhos. E ajoelhava-se no chão da sala de costura. A que tinha uma janela pequena para estrada. E escutava a velha, que lhe contava as estórias das caras a preto e branco. E por isso Lúcia gostava de ver fotografias. E dos bolos redondos que a velha tendia nos joelhos,  junto à chaminé de pedra da cozinha. Que comia às escondidas enquanto estendia os lençóis. Ficava ali, agachada por detrás dos lençóis e do cheiro a sabão e canela, comendo bolos. Deixando o tempo, que não sabia contar, correr por entre as migalhas de bolos que deixava espalhadas no chão de cimento. 
Um dia a velha não se levantou da cama. E Lúcia nunca mais empurrou a cadeira de rodas. A velha só saía do quarto, quando a Lúcia a transportava ao colo até à banheira. Onde lhe lavava o corpo flácido e engelhado. Lentamente, com uma luva turca que já perdera a cor. Depois vestia-lhe uma camisa de noite lavada e levava-a de novo ao colo até à cama. Ajoelhava-se no chão e cantava-lhe a mesma canção de embalar que cantava aos irmãos para os adormecer. Sem letra. Sem princípio, nem fim. A velha sorria. E dizia-lhe coisas bonitas e meigas que faziam Lúcia sorrir também. Até que um dia a velha sentiu-se pior. E deixou de falar. Lúcia continuou a levá-la ao colo para o banho. E a cantar-lhe a mesma canção. A velha tentava sorrir. Mas a boca deformada já não mexia. Só os olhos sorriam. E abria a boca para lhe dizer as coisas bonitas de sempre. Mas não saía som. Lúcia encolhia os ombros. Não fazia mal. Ela sabia. Ela sabia o que voz da velha não dizia. Colocava-lhe a máscara para a velha poder respirar. Aconchegava-lhe a roupa da cama, ajoelhava-se no chão e cantava a canção de boca fechada.  O tempo que Lúcia nunca soube contar, foi passando. E olhar da velha esmorecendo. O médico e os filhos diziam que se tinha esperar. Que o fim  estaria a chegar. Mas o fim, que se contava num tempo diferente das dores da velha, não chegava. As dores que lhe causavam o choro mudo sempre que Lúcia lhe rolava o corpo na capa. As dores que apagavam os olhos da velha dentro daquele corpo que não queria morrer. Um dia quando a levava ao colo para lhe dar banho, a velha apertou-lhe o braço e chorou. De uma dor ainda maior que a do corpo. A dor do cansaço. Quase que lhe saiu um som rouco da boca muda. Ou assim pareceu a Lúcia , que lhe deu banho. Lentamente. Com a luva de turco sem cor. Que lhe vestiu a camisa de noite lavada. Que lhe aconchegou a roupa da cama. E se ajoelhou ao lado dela. Mas dessa vez em silêncio, enquanto via as lágrimas correndo pelo rosto da velha. Enquanto Lúcia olhava para a mascara presa à botija. A velha fez um gesto com cabeça. Não. Parecera a Lúcia. Que a velha dissera não. E ficou a ali imóvel, enquanto o peito ofegante da velha acalmava por debaixo da roupa da cama. Até que o corpo definhado parou. Lúcia levantou-se. Fechou-lhe os olhos vidrados. Correu as persianas do quarto e sentou-se na berma da cama a chorar. 
Naquela casa viviam duas mulheres. Uma velha. E outra sem idade, mas com rosto de criança. Que ficou sozinha a comer bolos por detrás dos lençóis no estendal, no dia em que a vieram buscar o caixão com o corpo da velha.


in Gineceu, 2009


Brigadeiros Cappuccino




1 lata de leite condensado
1 colher de sopa de manteiga
1 saqueta de café soluvel ( 2-3g)
Cacau em pó


Leve o leite condensado  a manteiga e o café num tachinho a lume brando. Deixe engrossar até fazer estrada ( ao passar com uma colher a massa afasta-se e volta a juntar-se lentamente). Deite o preparado numa tijela untada com óleo e leve ao frio durante uma horas até ficar bem firme. Depois tenda bolinhas e envolva-as no cacau em pó.




sexta-feira, outubro 12

Trigonometria


Seno é razão entre o cateto oposto e a hipotenusa. Espero que valha o dinheiro que lhe pago, dizia-lhe a mãe enquanto lhe servia o prato viscoso de flocos de aveia. Tens de te alimentar, ninguém pensa em jejum, dizia-lhe ao primeiro trejeito da boca. Espero  que valha o dinheiro que lhe pago,  repetia enquanto ele engolia agoniado a papa acinzentada. A mãe escolhera-a por levar mais barato que os outros explicadores de matemática. Uma rapariga andrógina que desenhava círculos perfeitos nas folhas brancas. O cosseno é a razão ente o cateto adjacente e a hipotenusa.  Debruçava o colo seco sobre ele  e com o indicador percorria o circulo trigonométrico. Cheirava a sabonete barato e a tabaco e tinha uma caligrafia perfeita. Tinha uns olhos profundos num rosto feio e um sorriso fácil. Tangente é a razão entre o cateto oposto e o cateto adjacente. Bebia café por uma caneca que a mãe, sempre de chinelos e cabelo por pintar, lhe trazia. Depois da mãe sair ela fechava a porta num gesto seco e em circulo, que acabava no tirar da t-shirt, invariavelmente branca.  Ele levantava os olhos do quadriculado vazio e parava-os no corpo leitoso e magro que ela lhe oferecia na cama de corpo e meio. A co-tangente define-se como inverso da tangente. Espero que valha o dinheiro que lhe pago. A boca ainda lhe sabia  a tabaco e sabonete. Vais sair em jejum? Faz-te mal.  Amo-te, dissera-lhe ontem depois dela tirar a t-shirt. Ela deitou-se sem  o olhar. Repete-me a fórmula fundamental da trigonometria.

Queques de pequeno almoço


2 ovos
50g de manteiga sem sal
80 g de açúcar amarelo
200ml de sumo de maçã
100g de flocos de aveia
180g de farinha
1 colher de chá de fermento em pó
100g de framboesas congeladas
50g de amêndoas laminadas

Deite os flocos de aveia no sumo de maçã e deixe-os absorver  o sumo. Bata a manteiga amolecida com o açúcar e depois junte os ovos. Junte papa de aveia e sumo e depois a farinha, o fermento . Junte as framboesas ainda congeladas e envolva. Distribua o preparado por formas de queques e salpique com as amêndoas laminadas. Leve ao forno, pré-aquecido a 180º por 20 minutos ou até ficarem dourados.

terça-feira, outubro 9

Beautiful




Escrevo-te uma carta num tempo de palavras virtuais. Gosto do correr da minha letra que sempre foi ilegível. Como se a mão se prolongasse indefinidamente num tempo reflexivo. Como estás, pergunto, como andas? Quando o que realmente escrevo, naquelas palavras surdas por detrás da tinta, é, como estou? Como estão os miúdos? Dizem que o Outono desse lado do Oceano, é lindo.

A mãe senta-se na mesa e põe os sacos na cadeira ao lado. O miúdo senta-se sem a ver, de olhos postos na consola. A mãe fala com ele, debruçada, sem lhe tocar. O miúdo não a ouve.

Talvez te vá visitar para o ano. É a promessa que sabes que não irei cumprir mas que faz sentido ser recorrente numa carta que busca saudades numa vida tão diferente do que devia ter sido. Talvez te vá visitar para o ano, quando as coisas estiverem melhores.

A mãe aponta-lhe o Outono que já começa a chegar à calçada e responde pela mudez do filho. Suspira e bebe o café. Tem um ar demasiado cansado que lhe envelhecem os poucos trinta que tem. A luz oblíqua e dourada de Outubro ilumina-lhe meio-rosto.

Falo-te do Outono de cá, mas não do Outono perene fora da cidade, que esse não tem lugar no nosso imaginário, antes daquele que dentro de umas semanas irá cobrir as calçadas da cidade. Falo-te do tempo que corre lá fora. O cá dentro fica em silêncio por já ser lá fora demais.

A mãe e o filho continuam o monólogo inútil. As outras mesas preenchem-se com pessoas de rostos iguais. As folhas caem no tempo invisível de sempre. Eu deito a folha de papel fora.

Os afectos já não se medem em papel.

And the leaves fall from red to brown
To be trodden down
Trodden down
And the leaves turn green to red to brown
Fall to the ground
And get kicked around

(Beautiful- Marillion)


A confeitaria aceitou mais um desafio do Convidei para Jantar,  desta vez em casa da Vera, sob o tema Idolos musicais.
A confeitaria escolheu Marillion,  e esta música deu o mote às historias de ler de comer, de hoje.



Strudel de marmelo e pêra



4 folhas de massa filo
2 marmelos
3 pêras
50g de sultanas
4 colheres de sopa de açúcar
2 colheres sopa de vinho do Porto

Deite as passas numa tacinha com o vinho do Porto e deixe-as repousar pelo menos duas horas. Corte os marmelos e as peras em cubos pequenos. Leve-os numa frigideira ao lume com o açúcar e com as passas e o vinho do porto e deixe reduzir(retire mal veja que a fruta se está a desfazer)
Pincele as folhas de massa filo com manteiga, sobreponha-as, deite o recheio, completamente arrefecido e enrole como se fosse uma torta.
Leve a forno pré-aquecido a 200º até ficar dourada por fora.
Polvilhe com canela e açúcar em pó antes de servir.





quinta-feira, outubro 4

Da memória das letras


Tinha uma drogaria no rés do chão de um  prédio de dois andares. Um prédio velho de varandas absurdamente estreitas com  grades torneadas.  Era uma pequena loja impregnada de cheiro a tintas e benzina. Também vendia sabonetes e pó de talco, embrulhados  no mesmo  papel manteiga onde colocava as dúzias de pregos e meadas de arame. Sentava-se atrás do balcão de madeira com um caderno de folhas brancas e um lápis afiado com navalha, e enquanto desjejuava com uns biscoitos de canela que comprava na mercearia em frente, tentava lembrar-se. Porque o que ele queria ser era um grande escritor, daqueles que escrevem livros de lombadas largas e com edições de capa rija. Mas as ideias, as histórias só vinham de noite, naqueles breves instantes que antecedem o adormecer. Histórias formidáveis que eram varridas de manhã. Sempre tivera uma memória fraca, e uma imaginação lavada pela benzina. Por isso ele ficava ali, atrás do balcão, todas as manhãs, na esperança que lhe pingassem palavras do bico do lápis. Mas nada. Em cima do caderno, só as migalhas dos biscoitos. Depois a sineta da porta, que era uma velha sineta de escola, anunciava um cliente. Ele punha o caderno de lado,  sacudia os restos de canela  das camisa coçada, aviava os pedidos no pequenos embrulho de papel manteiga e depois pedia-lhes que fizessem as contas num canto de papel. Sorria meio envergonhado, enquanto ajeitava as latas de tinta na prateleira. Tiraram-me da escola antes de aprender a juntar as letras. Diziam que eu não tinha cabeça para os estudos. De lá só consegui roubar o sino.

Bolachas de canela com doce de maçã



200g de açúcar em pó
200g de  manteiga sem sal
400g de farinha sem fermento
2 colheres de chá de canela
1 ovo inteiro + 1 gema
Pitada de sal fino
Passas
Doce de maçã para rechear

Bata o açúcar com a manteiga até obter um creme. Junte a canela, o sal e depois os ovos, batendo sempre.  No fim adicione a farinha. Faça uma bola com a massa e leve ao frio durante 1 hora, embrulhada em película aderente. Estenda a massa numa superfície polvilhada com farinha e corte com um cortador à sua escolha. Depois coloque uma passa em metade das bolachas e leve ao forno pré-aquecido a 180º até ficarem com as bordas ligeiramente douradas. Retire do forno e deixe arrefecer completamente. Depois coloque uma colher de doce de maça numa bolacha e cubra com uma das que tenha levado passa.


segunda-feira, outubro 1

Quarenta e dois




Comprava-lhe meia dúzia de rosas vermelhas e um cartucho de bombons de ginja, dos de licor, pelo aniversário de casamento.  Ela recebia-lhe o beijo na testa e ia buscar uma jarra do  enxoval. Lentamente cortava os pés da rosa e tirava os espinhos um por um. O cartucho, deixava-o esquecido em cima do carrinho do chá. O jantar é carne assada.  Usavam o mesmo serviço de porcelana que ela punha na mesa de Natal, e jantavam na esquina da mesa que dava para ver as noticias. Depois de arrumar a cozinha ela ia para quarto, vestia a camisa de noite e sentava-se na borda da cama com mãos sobre o colo. Enquanto se despia ele dizia, ó filha, não provaste os bombons. Ela fazia um esgar contrariado, não gosto que me trates por filha. Ele ria-se deitado de costas na cama e perguntava. Quantos  anos são? Ela alisava o lençol e antes de apagar a luz dizia, o licor sempre me fez mal à vesícula.

Bombons de ginja



400g de chocolate
30 g de manteiga sem sal
1 lata de leite condensado
200g de ginjas secas
1 colher de sopa de licor de ginja


Deite o leite condensado, a manteiga e o chocolate partido em pedaços pequenos num tacho e leve ao lume, até derreter o chocolate e tudo estiver bem envolvido.  Junte as ginjas e o licor e deixe cozinhar em lume brando, mexendo sempre durante mais 5 minutos.
Deite numa assadeira forrada com pelicula aderente e leve ao frio pelo menos 8 horas. Corte em cubos antes de servir.