sexta-feira, dezembro 28

Recomeço


Ciclos. De dias, de anos, de nós. Como se o tempo se medisse numa areia diferente do verbo. Um ritual de renovação dentro dos rituais de todo ano que nos impedem de ver o cinzento de todos os dias. Porque a dispersão da luz é parda e a vida dispersa-se por entre o coar do tempo. Só a escolha tem cor.

Um 2013 cheio de cor, são os votos da Confeitaria.


Bolinhos de castanha e chocolate



375g de doce de castanha
200g de chocolate em barra
100g de manteiga sem sal
3 ovos
2 colheres de sopa de farinha maisena

Derreta o chocolate com a manteiga em banho maria. Bata os ovos com o doce de castanha e depois junte a farinha. Bata tudo de forma a ficar homogéneo. Junte a mistura de chocolate. Leve em forminhas de queque,  a forno pré-aquecido a 150º durante 20minutos

Receita adaptada de Saveurs nº 196

quinta-feira, dezembro 20

Natal na Confeitairia


Chove. É dia de Natal. 
Lá para o Norte é melhor: 
Há a neve que faz mal, 
E o frio que ainda é pior. 

E toda a gente é contente 
Porque é dia de o ficar. 
Chove no Natal presente. 
Antes isso que nevar. 

Pois apesar de ser esse 
O Natal da convenção, 
Quando o corpo me arrefece 
Tenho o frio e Natal não. 

Deixo sentir a quem quadra 
E o Natal a quem o fez, 
Pois se escrevo ainda outra quadra 
Fico gelado dos pés. 

( Fernando Pessoa)


A confeitaria deseja-vos um Feliz Natal. E porque "não há mais metafísica no mundo senão chocolates" aqui fica esta estória de comer.



Mousse de Chocolate e ginginha




300g de chocolate negro
200ml de natas frescas
4 claras
150g de açúcar
75ml de água
60ml de ginginha

Derreta o chocolate com as natas em banho maria. Leve ao frio e deixe arrefecer completamente. Faça um xarope com o açúcar e água ( ponto de pérola). Bata as claras em castelo e junte o xarope em fio. Bata o merengue até estar completamente frio. Retire a mistura de chocolate e natas e bata até duplicar de volume. Misture com o merengue (este tem de estar à temperatura ambiente!) e junte a Ginginha. Leve ao frigorifico durante umas horas



quarta-feira, dezembro 19

Conto rápido de Natal



Calhara ficar de serviço naquela noite. Não se ralara porque não gostava nem fritos nem da solidão com cheiro a caruma.  Sentou-se num degrau de pedra , abriu o pacote com azevias de grão e enquanto lhes tirava o recheio com o  indicador, como fazia no tempo em que era criança,  o homem da casa de cartão gritou-lhe do outro lado da rua, feliz Natal! Ele fechou de novo a azevia e estendeu-lhe o pacote. Sente-se aqui, que isto faz-me mal à vesícula.  Os fritos são tramados, disse o homem da casa de cartão enquanto  comia. A solidão é pior, respondeu-lhe.



Trufas de grão





(cerca de 24) 
250g de grão cozido
150g de amêndoa pelada
200g de açúcar
100ml de água
2 paus de canela
Casca de laranja q.b
Açucar em pó
Canela em pó

Leve o açúcar  ao lume com a água, os paus de canela e a casa de laranja, até fazer ponto de pérola.  Pique finamente, o grão juntamente com a amêndoa. Junte à calda e com o lume muito brando, deixe cozinhar até fazer estrada. Leve ao frigorífico pelo menos 8 horas. Deite açúcar em pó misturado com canela num prato e tenda bolinhas com a massa.

quinta-feira, dezembro 13

Antónia


Sempre que a visitava, na casa de Alvalade, sob o pretexto de alguma efeméride de fim de semana, ela fazia-lhe farófias. O único doce que aprendi a fazer, foi uma portuguesa da Rodésia quem me ensinou no dia em que me debulhei em lágrimas por descobrir que o teu avô me traía. Cozinhava apenas com uma mão, com a outra segurava o cigarro. Ele ficava à porta da cozinha a ver-lhe os movimentos sem idade. Não me chames avó, que antes da tua mãe nascer eu já tinha nome. Servia as farófias num serviço chinês e pedia-lhe que não falasse nem dos mortos nem dos que em breve iriam morrer.  Que as conversas para velhos cheiram sempre a página de necrologia. Por isso faço as mesmas coisas que fazia aos vinte, aos trinta, que nós  só engelhamos por fora. Por dentro só  há dias seguintes, não há idades. Depois pedia-lhe que descessem a Avenida de Roma a pé, de braço dado. Hoje fico por aqui, não preciso da luz do rio porque não estou só.  Amanhã talvez vá até ao Chiado. Inclinava para trás a cabeça de cabelos brancos armados com laca, em direcção ao sol. Desta vida, a melhor memória que levo é a luz de  Lisboa.

Farófias com creme de laranja


Esta estória de ler e comer foram contadas para o desafio Convidei para Jantar, que nesta edição tem o tema "Cidades" e cuja anfitriã é a Marmita.  A cidade que convidei, foi a minha mãe adoptiva, cuja luz trago sempre comigo: Lisboa

(para 4)
4 claras
6 gemas
75g de açúcar em pó
100g de açucar granulado
7,5 dl de leite
Casca  e Sumo de 1/2  laranja
1 colher de chá de farinha de arroz
1 colher de chá de licor de laranja
2 paus de canela
Canela para polvilhar

Bata as claras com o açúcar em pó até obter um merengue bem firme.  Leve o leite ao lume, com  casca de laranja e a aquela até levantar fervura. Baixe o lume para muito brando, e com um doseador de gelado deite pequenas bolas de merengue. Deixe cozer 1 minuto e retire. Depois de esgotar o merengue, coe o leite. Bata as gemas com o açúcar e dissolva a farinha de arroz no sumo de laranja. Junte ao leite e leve ao lume até engrossar, tendo cuidado para não deixar ferver. Aromatize com o licor e deite sobre o merengue cozido. Sirva com canela em pó e raspa de laranja.

quinta-feira, dezembro 6

Estorieta


Gostaria de ter um nome de musa como Laura ou  Beatriz.  De ter lido mais do que duas páginas de James Joyce e de ter ouvido Schoenberg sem sofrimento. Era o que pensava, depois de pedir um café pingado,  quando se sentava no Martinho da Arcada a ver  o movimento no Terreiro do Paço, ou  às vezes a contemplar  o rio. Pensava também, como se pronunciaria o trema por cima do  O e  se não ficaria mais satisfeita com uma meia de leite.


Panna cota "Meia de Leite"
(para 4)




200ml de natas
400ml de leite
4 folhas de gelatina
120g de açucar
1 vagem de baunilha
200ml de café expresso + 2 folhas de gelatina
Chocolate preto ralado


Leve as natas, o leite, a vagem de baunilha raspada e o açúcar  num tachinho ao lume até levantar fervura. Retire do lume e deixe arrefecer um pouco. Dissolva as folhas de gelatina, previamente demolhadas, na mistura de natas e leite. Distribua por tacinha e leve ao frigorifico por umas horas

Dissolva as folhas de gelatina no café expresso quente  e deite por cima do panna cota ( verifique se este está firme). Leve de novo ao frio para prender a gelatina de café. Sirva com chocolate preto ralado.


terça-feira, dezembro 4

Teófilo


Cuspia no chão sempre que passava pelo padre da vila. Tirava a velha boina basca, pousava-a sobre o lado esquerdo do peito, aquele onde acreditava ter o coração, e cuspia. E ficava, hirto, de boina ao peito  e de olhos fixos no padre que atravessava a estrada. És doido, diziam abanando a cabeça. Não, respondia. Sou um homem de fé. E as mulheres de negro benziam-se. Ou beijavam a cruz, se a trouxessem ao peito. O que sabes tu de fé, homem? Tu que cospes aos homens de Deus? E ele guardava a boina no bolso das calças e lembrava-se.  Lembrava-se da tia, que sempre fora velha, e que acreditava que era a humidade da igreja que lhe causava a bronquite. Mas ainda assim, levantava-se cedo todos os Domingos para fazer a  canja com hortelã e leite creme para  o almoço, que Deus-nosso-senhor, tudo vê e tudo sabe, é maior que todas as maleitas. Que sabes tu de fé homem? Tu que dois dias depois de fazer nove anos, na missa de Domingo, cuspiste ao padre, quando te estendeu o cesto das oferendas? Ficara sentado de rosto e orelhas ardendo pela mão envergonhada da mãe, esperando que Ele viesse, Ele, que tudo via e sabia, teria de vir cheio de fúria divina. Mas não viera. O que sabes tu de fé, homem?  És doido, diziam na vila. E ele sorria e dizia baixinho: Tenho é fé. Que o sacana ainda um dia me aparece.

Deserto do Mundo, Março de 2011


Leite creme de laranja



 400ml de leite
200ml de natas
6 gemas
2 colheres de sopa de farinha de trigo
160g de açúcar
1 colher de sopa de licor de laranja
Casca de uma laranja


Leve o leite e as natas ao lume com a casca da laranja até levantar fervura. Retire do lume e deixe repousar uns 15 minutos. Bata as gemas com o açúcar, a farinha e o licor. Junte o leite leve ao lume até engrossar. 
Deite em recipientes baixos e deixe arrefecer completamente  Polvilhe com açúcar e queime com um maçarico ou ferro de queimar.