sexta-feira, maio 17

Nova lenda das Amendoeiras


A chegada da neve não bastou para apagar a saudade dos copados de flores brancas que se estendiam até ao mar. Não chegou para apagar o cheiro de maré vazia que vinha nas cartas sem papel e nos telefonemas a horas mortas. Tens-te alimentado? Vens cá pelo Verão? A voz da mãe pelo telefone, que já não era o da mercearia que a avó usava para ligar duas vezes por ano. Do outro lado, a voz da mãe que fora perdendo o sotaque onde se arrastava o chiar da carrinha que a passara a salto. Tens roupa quente? Que lhe tinham dito que o Inverno na América ainda era pior que o da França. A encosta de flores brancas a crescer no calor das palavras da mãe. Que estava bem, que havia outro português a fazer o doutoramento, e lá em baixo o mar a molhar de leve o riso de alívio da mãe, ainda bem filho, que assim não estás tão sozinho. Vens cá pelo Verão? Ele a dizer que sim por detrás do som do sino da igreja, que a tua irmã vai baptizar o menino, quer que tu sejas o padrinho, e ele quase a tocar no branco das copas para além da casa de azulejos dos pais. Fica com os anjos, que eles te acompanhem, a avó a chorar na estação de comboio, as malas espalhadas no cais, que podiam ser as dele alinhadas no aeroporto, mas sempre as mesmas lágrimas a pingarem o amargo da amêndoa, fica com os anjos, filho, fica com os anjos, que a gente cá te espera no Verão.

Texto publicado na edição de Maio da Revista InComunidade




Bolo de Amêndoa da Nigella





250 g de manteiga
250g de massapão
150g de açúcar
150 de farinha com fermento
1 colher de chá de essência de amendoa
6 ovos


Coloque num robot de cozinha a manteiga juntamente com o massapão até ficar numa pasta. Junte o açucar e misuture. Depois junte a essência e os ovos um a um, pulsando sempre. Misture a farinha e deite numa forma forrrada com papel vegetal e leve a forno pré-aquecido a 160º durante 40 a 50 minutos

Receita : Easy almond cake, de Nigella Lawson



quarta-feira, maio 15

Eduardo




Há amores que nunca conhecem o nome, feitos de corpos anónimos e de noites sem data.  O dela não tinha rosto, apenas um nome na capa de um  livro de poemas.  Seguia os versos com a ponta dos dedos, contornando as linhas de um sorriso que não conhecia. Soletrava-lhe o nome na esperança de lhe construir um vulto com as silabas. Um dia ele veio à livraria da cidade. Para dar autógrafos. Ela ficou à porta, e mandou,  por uma vizinha, o livro por assinar e um cesto de morangos. Quando ele olhou pela montra, ainda lhe viu o rasto dos gestos antes de atravessar a rua e disse, descobri hoje que o amor cheira a morangos.


Tarte de chocolate e morangos


200g de bolacha maria
100g de manteiga derretida
200g de chocolate em barra
50 g de manteiga
150g de açúcar
5 ovos
5 folhas de gelatina
350g de morangos

Demolhe as folhas de gelatina num pouco de água fria. Pique a bolacha maria com manteiga derretida num robot de cozinha. Deite a mistura numa forma  de aro e calque bem.  Derreta o chocolate com a manteiga em banho maria. Junte as folhas de gelatina ao chocolate ainda quente e misture bem. Bata as gemas com o açúcar até obter um creme bem fofo e junte a mistura de chocolate. Bata as claras em castelo e envolva no preparado anterior. Deite sobre a bolacha e leve ao frio durante pelo menos 3 horas. Retire e decore com morangos ( poderá pincelá-los num fim com um pouco geleia)




sábado, maio 11

Deus não gosta de broas


Naquela sala sentavam-se todos ao redor de uma mesa, primeiro três, que o quarto, por só saber servir, teimava sempre em ficar de pé. Naquela sala, que outros também chamavam cozinha, os quatro falavam naquele silêncio de todos os dias, que o que se repete muitas vezes acaba por perder o som. Dizem. Naquela sala, o que servia levantava-se de madrugada para amassar as broas que deixava na igreja todos os primeiros Domingos. Deus não gosta de broas, dizia com indiferença a mais delicada, a que sempre fora diferente por fora, só por fora da pele de porcelana e dos olhos azuis que eram mais negros que o castanho dos outros. Depois, pedia o açúcar, que era amarelo e não em cubos brancos como os que imaginava existir nos palácios. Uma outra, que se chamava Rosa, estendia-lhe o açucareiro, como se soubesses dos gostos de Deus, respondia-lhe. E antes de se embrulhar no xaile verde, dizia, tenho de ir, volto para jantar. Onde vais, perguntava-lhe ele, enquanto vertia o azeite da almotolia. Ao lugar de sempre, respondia-lhe ela, de olhos baixos, que ninguém sabia qual era o lugar de sempre e todos haviam desistido de perguntar, a ela, que nascera com o dom bizarro de ouvir as vozes dos outros antes que fossem faladas. Ele encolhia os ombros, deixo-te a mesa posta. Ela sorria-lhe, a mim chega-me uma broa das tuas, enquanto abria a janela. E quando o lá fora entrava na sala com as cores da manhã, a última, de quem ninguém conhecia a cor dos olhos, dizia, enquanto mergulhava o pão na malga de leite, aquece-me o rosto, este amarelo das primeiras horas do dia, ainda mais do que o cheiro morno do café. Sorriam-lhe todos, ou pensava ela que lhe sorriam, ou talvez apenas lembrassem alguma coisa que ficara lá fora. 


Texto integrante da Exposição: Bolota 1/4 adiante



terça-feira, maio 7

Ausência




Há dias em que as palavras se esvaziam de rostos e estes de estórias. Limpo a humidade das palavras baças e resignando-me perante o mofo branco das páginas digo: é apenas cansaço.



Torta de laranja
(receita porque sim)



3 ovos inteiros
5 gemas
200g de açúcar
50g de farinha maisena
Raspa de 2 laranjas
100ml de sumo de laranja
1 colher de sopa de manteiga


Bata os ovos inteiros e gemas com o açúcar. Dilua a farinha num pouco de sumo de laranja e adicione juntamente com o sumo restante e a raspa à mistura de gemas. Junte a manteiga derretida. Forre um tabuleiro com papel vegetal e unte-o com manteiga , deite a mistura e leve a forno pré-aquecido a 160º durante cerca de 20 minutos.  Sobre uma mesa, polvilhe uma folha de papel vegetal com açúcar. Desenforme a torta sobre o papel polvilhado com açucar e enrole.