terça-feira, fevereiro 26

O Dono da Tabacaria - (Tabacaria III)




Abre a caixa de música, pintada com flores de pessegueiro por fora e forrada a veludo vermelho. Dá-lhe corda. Dez voltas. E a boneca de madeira gira ao som da música de um só tom. Debussy. Volta a placa pendurada na porta. Aberto. Atrás dele o cheiro da tinta dos jornais, e o corpo dela que um dia talvez tenha dançado numa sala de um segundo andar qualquer numa rua sem nome. Um estalido por cada volta da boneca na caixa. Sente-lhe o vestido castanho rasgando um espaço que se dobra sempre que ele abre aquela caixa de música. Bom dia. É o professor de música, de rosto esquálido e olhos mortiços. Fuma cachimbo e irá morrer de desgosto de amor, pensa. Outro estalido. Outro círculo. Fecha-lhe a carteira de tabaco. Cheira a cânfora e a memória (Será uma memória?), volta. O tempo, o real e o que corre atrás dos olhos, é circular. Definido por algum axioma que o engenheiro da mansarda poderá explicar. Bom dia. É a pequena dos chocolates, que será sempre pequena, mesmo quando tiver cabelos brancos. Leva-os, os chocolates, aos pares e fica ali, olhando para a mansarda, procurando os porquês que não encontra na sua rua tão igual a tantas outras. A boneca parou, com o seu braço descascado de tinta, imóvel no espaço de todos os dias. Dez voltas. Boa tarde (Já?). Não conhece o rosto. Leva cigarrilhas das caras. O Dono da Tabacaria não espreita o carro que arranca. É um homem rico. Deita um pouco de licor num copo que guarda por debaixo do balcão, que lhe desce viscoso e quente para dentro da memória. Talvez ela tivesse olhos azuis e dedos longos. Outro estalido. Olá Esteves, é o jornal? Vive atormentado com a morte dos outros, o Esteves. Sai à porta e sorri para o engenheiro da mansarda. O dia termina. Fecha a caixa de música e perde as memórias. Nada persiste. Só a certeza de que ao sétimo dia não descansará.

Cristina Nobre Soares   
(Março 2012)


Trufas de chocolate, Vinho do Porto e Praliné de Amêndoa




200g de chocolate em tablete
100ml de natas
2 colheres de sopa de vinho do porto

para o praliné

200g de açúcar
75ml de água
100 g de amêndoa pelada



Derreta o chocolate em banho maria, juntamente com as natas. Retire do lume e junte o vinho porto. Leve ao frigorifico durante umas horas para endurecer.

Leve o açúcar e a água ao lume até fazer ponto de caramelo ( não muito escuro). Junte as amêndoas e deite sobre papel vegetal. Deixe arrefecer completamente e pique.

Tenda bolinhas com a massa de chocolate e envolva-as no praliné.



segunda-feira, fevereiro 25

O Esteves sem metafísica - Tabacaria (II)


Comprava o jornal todos os Domingos. O Dono da Tabacaria não fechava ao sétimo dia. Vens comigo à missa? Perguntava-lhe a mulher. Não. Vou buscar o jornal. Ela ficava ali, de véu quase branco rolando entre as mãos. Fazia-te bem homem. Quando morrer ajusto as minhas contas com Ele. E o véu rolando entre as mãos era guardado na mala com um suspiro. Fazia-te bem homem. Não gostava de ler. As letras miúdas do jornal ardiam-lhe na vista a pedir óculos há muito. Por isso não havia livros em casa. Só a Bíblia, que a mulher lia todas as noites antes de dormir. Depois, pousava-a na mesa-de-cabeceira, benzia-se duas vezes, três se visse que ele estava com ardores e punha o lenço de cambraia para não estragar o apanhado de cabelo, sempre impecável. Tenho saudade de te ver com o cabelo caído, dizia-lhe ele quase sorrindo. Ela nem levantava os olhos do terço que corria lesto e rotineiro por entre os dedos ásperos da cinza. Não gostava de ler. É o jornal, Esteves? O Dono da Tabacaria guardava-lho por debaixo do balcão. À porta estava a rapariga dos chocolates, sem nome e olhos vagos. Ficava ali, à porta, a olhar para a Mansarda. Deixou a moeda no balcão. Só lia a página dos mortos. Para saber quem ia e quem ficava. Sempre que podia ia aos funerais, mesmo que não conhecesse o defunto. Mais triste que a solidão em vida, é a solidão da morte. Por isso cumprimentava toda a gente. Talvez assim não se esquecessem do seu enterro. O pai, que morrera fulminado por um ataque de fúria, não tivera ninguém para além dele e da mãe. Que o coveiro e o padre não contam. Por isso ia a todos os enterros que podia. Devias ter ido hoje comigo, dizia-lhe a mulher sentada à beira da cama enquanto atava o lenço. Foi bonito o sermão. Ele olhava-a. Tenho saudades do teu cabelo. Fazia-te bem homem. Ele aconchegava-se na cama. Foi alguém a enterrar hoje? Perguntava-lhe a mulher. Foi. As pessoas eram tantas que ficaram à porta do cemitério. Ela suspirou. Um homem de Deus. Não, retorquia ele enquanto apagava o candeeiro a petróleo. Um homem de bem.


Tarte de dois chocolates com molho de café



4 gemas
7 claras
1 tablete de chocolate preto
1 tablete de chocolate branco
125g de açúcar
75g de manteiga
100 ml de natas
6 folhas de gelatina
200g de bolachas de chocolate
80 g de manteiga derretida.

Demolhe as folhas de gelatina em água fria.Derreta o chocolate preto com a manteiga, em banho maria, junte a esta mistura metade das folhas de gelatina e envolva bem. Bata as gemas com o açúcar e misture o chocolate derretido. Bata as claras em castelo e adicione à mistura, metade das claras, envolvendo cuidadosamente. Leve ao frio para prender um pouco.
Derreta o chocolate branco com as natas em banho maria, junte as restantes folhas de gelatina e envolva as restantes claras.
Pique as bolachas de chocolate e junte a manteiga até obter uma pasta areada. Forre o fundo de uma forma de mola com esta mistura. Deite por cima a mousse de chocolate preto e depois a mousse de chocolate branco. Leve ao frio por umas horas.

Molho de café

300ml de café expresso forte
100ml de água
100g de açúcar

Leve o café, a água e o açúcar num tachinho ao lume e deixe ferver em lume brando até reduzir para 1/3 do inicial.


Sirva a tarte com o molho de café




sexta-feira, fevereiro 22

A Pequena dos Chocolates (Tabacaria- I)



Bizarro. Murmuro enquanto olho para a biqueira dos sapatos. Finjo que não o vejo enquanto como os chocolates que compro todas as sextas feiras na Tabacaria. Quantos? São dois,  respondo, e o dono da Tabacaria coloca-os dentro de um  pacote de papel pardo. Bizarros, os olhos do homem da mansarda que me olham por detrás dos óculos redondos. Tive uma tia, de voz estridente, a quem os erres saíam enrolados com o ruído supérfluo  de quem lhe desconhece o significado . Bizarro. Vejo-o de olhar debruçado sobre nós. Sobre mim. E estremeço. Cada chocolate vem embrulhado em papel de prata, que a minha mãe alisará cuidadosamente com o polegar. Para marcar os livros que nunca lê. Limpo o canto da boca e o homem da mansarda, olha-me com a opacidade de quem pensa noutra coisa. É doido, dirá a minha mãe quando estiver a alisar a quase prata ao som do  meu relato.  Não o acho doido. Nem louco. É apenas o bizarro homem da mansarda. E enrolo a palavra na minha boca na busca do nome que não conheço. Dizem que escreve poemas. Não me escolherá um homem que saiba fazer versos. O que me escolherá, será decerto um homem pardo, de palavras de fazenda barata.  Na minha rua, a ambição dobra-se nas gavetas do enxoval antes que chegue a humidade do versos e outros delírios. Na minha rua, a poesia ganha cheiro a bafio. Guardo o  chocolate que sobrou. Para a minha mãe. Devias poupar para comprar pano para o enxoval, dirá. Mas o pano de linho tem uma aspereza que o chocolate não tem. O chocolate aquece-me macio, a ausência de versos.  O homem sorri, não sei se para mim, ou nem sei sequer se a boca, que imagino de cera, realmente sorri. Recolho os olhos na biqueira dos sapatos enquanto o dono da Tabacaria que veio à porta, me pergunta. Conheces?  Digo que não. Faz-me medo. É um homem bizarro.

Cristina Nobre Soares               
Março 2012
 Festival do Chocolate de Óbidos, Espectáculo Come Chocolates Pequena  - Benvindo da Fonseca ( coreografia), Liliana Mendonça e Ricardo Freire ( bailarinos), Inês Fouto (atriz).



Papos de Anjo de Chocolate



300g de açúcar
300 ml de água
Casca de uma laranja
2 colheres de sopa de Grand Marnier


Papos de anjo

7 gemas + 1 ovo inteiro
1 colher de sopa de chocolate
1/4 colher de chá de fermento em pó


Leve a água com o açúcar num tachinho ao lume, junte a casca de laranja e deixe ferver durante 5 minutos. Deixe arrefecer complectamente. Junte as duas colheres de Grand Marnier.

Pré-aqueça o forno a 180º.Bata as gemas e ovo inteiro até triplicar de volume. Peneire o cacau e o fermento e envolva cuidadosamente. Unte forminhas de queque com manteiga e leve ao forno por 5 minutos.
Mergulhe os papos de anjo na calda fria.

Receita adaptada de Leonor Sousa Bastos

domingo, fevereiro 17

Elisa




Aborreciam-lhe os programas de politica e de desporto. Mesmo dos Jogos Olímpicos só gostava da parte dos pódios. Emocionava-se, com as bandeiras a subir, os hinos a tocarem e as medalhas ao peito. Quando Carlos Lopes ganhou a medalha de ouro, marido chamou-a para ver  em diferido. Largou a compota de laranja que tinha ao lume e  debruçou-se nas costas do sofá da sala. No fim limpou a lágrima teimosa do canto do olho e disse: Foi  muito lindo. Mas para mim, assim de ouvido, o da Alemanha de Leste, ainda é mais lindo. O marido olhou-a com olhos vermelhos pela falta de óculos e reprovação política e ela baixou os dela enquanto fingia ajeitar o avental. Pois, realmente  aquilo do muro de Berlim é uma pena.


Compota de manga e laranja



700g de manga  descaroçada e descascada ( muito madura)
300g de açúcar
Sumo e casca de 1 laranja

Corte as mangas em pedaços pequenos, junte a casca de laranja cortada muito fininha,  o sumo da laranja e metade do açúcar. Leve ao frigorífico a macerar durante pelo menos 8 horas. Depois deite a mistura num tacho, junte o restante açúcar e deixe ferver até atingir ponto de estrada.



sexta-feira, fevereiro 15

Outra estória de amor em menos de cinquenta palavras




Comprou uma sebenta de capa amarela para escrever todas as palavras que lhe queria dizer. Depois pediu que lhe corrigisse os erros ortográficos. Um dia estranhando-lhe as rugas em volta dos olhos azuis perguntou-lhe a idade. E ela respondeu, amo-te escreve-se com tracinho.

( porque cinquenta palavras merecem uma receita rápida)

Bolo de crepes com doce leite



16 a 20 crepes
600 g de doce leite ou leite condensado cozido
Cacau em pó para polvilhar

Coloque um crepe num prato de servir. Cubra-o com doce de leite. Repita o procedimento até esgotar os crepes e o doce leite. Polvilhe com Cacau em pó

quarta-feira, fevereiro 13

Convidei para jantar...

... Um Poema.


E a Confeitaria abre as portas às 10ª Edição do Convidei para Jantar, iniciativa criada pela Anasbageri. Mesmo não sendo dada a passatempos, a gerência deste estabelecimento tem participado neste desafio que leva a culinária a outros limites da criatividade, tendo sido a última anfitrã, a Marmita

E os convidados serão: Poemas. O poema da vossa vida, o que ainda não foi, o que sempre será. Apaixonem-se pois por um poema e convidem-no para jantar.

Aqui, no Come Chocolates, Pequena, seria impensável não fazer a homenagem ao que é para mim "O Poema", onde começou o caminho deste sitio, onde em cada palavra pesada em gramas de açúcar se tenta provar que " todas as religiões do mundo não ensinam mais que a confeitaria": Tabacaria de Álvaro de Campos.

Aqui, na voz de João Villaret vos deixo a Tabacaria:




    Não sou nada.
    Nunca serei nada.
    Não posso querer ser nada.
    À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
    Janelas do meu quarto,
    Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
    (E se soubessem quem é, o que saberiam?),
    Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
    Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
    Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
    Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
    Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
    Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
    (...)




Para participarem neste desafio terão de seguir as seguintes regras



  • Convidar para jantar um poema
  • A receita servida terá de ser inspirada no capitulo da doçaria, ou isto não fosse uma Confeitaria
  • Todos podem participar, mesmo que seja a primeira vez ou não tenham blog de culinária.
  • Quem não tiver blog de culinária poderá deixar a sua participação na página de facebook do Come Chocolates
  • O vosso  post deve referir o link  deste blogue e o link da Anasbageri.
  •  As participações devem ser feitas até dia 16 de Março
  • Alguma duvida podem deixar na caixa de comentários ou fazê-lo por facebook.





Hoje para este poema só há uma estória, uma de comer, a que sirvo com orgulho da língua que escrevo, da língua que leio, que é ela com todas as suas sintaxes, semânticas, sujeitos e predicados,  que faz o chão a que chamamos terra, a este poema magnifico: Tabacaria



Floresta negra




Para os bolos de chocolate

400g de chocolate em barra
10 ovos
350g de açucar
280g de farinha com fermento
250g de manteiga sem sal
2 colheres chá extracto de baunilha
pitada de sal fino

Derreta o chocolate juntamente com manteiga em banho maria. Bata os ovos inteiros com o açúcar e junte a mistura de chocolate. Junte o sal e a baunilha e depois envolva a farinha. Divida a massa por duas formas redondas de igual diâmetro e leve a forno pré-aquecido a 180º durante cerca de 30 minutos, ou até, espetando um palito no bolo este saia limpo. Deixe os bolos arrefecer completamente e depois corte cada um deles ao meio. Reserve.


Para a ganache de chocolate

150g de chocolate
100 ml de natas

Derreta o chocolate e as natas em banho maria. Leve ao frigorífico até ficar bem frio. Depois bata a mistura até duplicar de volume. Reserve.

Para o chantilly

400ml de natas frescas
2 colheres de sopa de açúcar

Bata as natas com o açúcar até ficarem bem firmes. Reserve

Para a montagem

1 frasco de doce de ginja
150 ml de Ginjinha
Ginjas em calda para decorar

Pincele generosamente com uma das metades de bolo, depois com metade do doce de ginja e cubra com metade do chantilly. Coloque por cima mais uma metade, pincele com ginjinha e cubra com toda a ganache de chocolate. Coloque por cima a 3ª metade, pincele com ginjinha, depois o doce e depois chantilly ( reserve duas colheres de sopa do chantilly para a decoração final) , finalmente cubra com a ultima metade. Decore com chantilly, com as ginjas em calda e raspas de chocolate.



Inspiração: Masterchef Australia

domingo, fevereiro 10

Pensamento dois instantes antes de chover



Cansam-me as  pessoas cheias de diminutivos. Cheias de certezas comezinhas, pequeninas, soberbazinhas sobre aquilo que não sabem, que tantas vezes é apenas a vida dos outros. Cansam-me os caminhos certos e impolutos de quem segue cegamente uma chave dicotómica a que chamam vida. Cansam-me os julgamentos medidos a metro de retrosaria sobre os outros, que são sempre os outros, que jeito que dão os outros para falarem sempre nas terceira pessoa, sem reflexo, sem sombra, tão diferentes do eu polido com solarine comprada avulso. Cansam-me  os dias de quem acha o tempo por si só um mérito, essas horas feitas de vinte e quatro dias cada, a transbordar  de vazio, desse vazio feito de croché de medo de tudo que lhe é diferente. E eu que sou apenas função dos meus erros, sempre a tender para o infinito, cheia de eixos que não consigo projectar nestes pressupostos de duas dimensões, digo, raios os partam mais as contas de mercearia com que vão somando certezas.

( A receita é porque sim)

Affogato de noz



 ( 1 pessoa)

1 café expresso
1 colher de chá de licor de noz, amêndoa ou avelã
1 bola de gelado de noz

Coloque a bola de gelado no fundo de uma chávena e deite o licor e o café quente por cima.

sexta-feira, fevereiro 8

Das estórias dos livros



Enchia o vazio  das paredes com os livros que mais ninguém queria ler. Trazia-os em sacos de plástico juntamente com os limões  verdes que comprava na praça. Abria a janela da sala que dava para a praceta de prédios centenários. O cão famélico do cego do acordeão, latia. Bom dia, gritava-lhe antes do cego pôr a boina no chão.  Limpava os livros com um pano de feltro,  enquanto os passos enchiam as sombras da rua.  Uma mulher qualquer passava, deixava uma moeda na boina e olhava-o pela janela. Quantos livros trouxe hoje senhor Faria? Ele sorria e dizia fazia um gesto circular com as mãos, muitos. Depois os alinhar por ordem alfabética,  esperava que o cheiro a limões verdes enchesse a sala, voltava a moldura dela para si e dizia, ainda não foi hoje que encontrei uma estória como a nossa, Amélia.


 Tarte de lima


200g de bolacha maria
100g de manteiga derretida
400g de queijo creme
3 claras em castelo
180 g de açúcar
75  ml de sumo de lima
Raspa de 3 limas
5 folhas de gelatina

Triture a bolacha maria e amasse-a com a manteiga derretida. Deite a mistura numa tarteira e pressione contra o fundo e os lados. Bata as claras em castelo e junte o açúcar até fazer um merengue bem firme. Bata o queijo creme com o sumo e a raspa das lima e envolva o merengue. Leve as  folhas de gelatina, previamente demolhadas 15 segundos ao microondas juntamente com 2 a 3 colheres de sopa de água e junte á mistura. Deite o creme na tarteira e leve ao frio durante pelo menos 4 horas. Sirva decorado com rodelas e raspa de lima.

segunda-feira, fevereiro 4

Theobroma cacao ou do Chocolate



Lembro-me de um chocolate quente entre as minhas mãos. Lembro-me da janela em semicírculo que dava para as árvores da manhã. Lembro-me do cabelo farto e grisalho e dos olhos que nunca fixavam os rostos. Lembro-me da voz de pausas bruscas e o calor a queimar-me a ponta dos dedos. Teobromina, disse. Um alcaloide presente no cacau. E a voz brusca a dizer, tem de escrever, porque tem de ser, porque é uma pertença. Lembro-me do anfiteatro velho, dos passos na gravilha que também eram os passos nos degraus de madeira e eram o reflexo das vozes nas folhas do carvalho sem idade. Porque lhes pertence, a elas, às letras que não escreve. Entre os meus dedos, o líquido castanho feito de pentágonos e hexágonos de carbono em ligações simples e duplas. São eles que me queimam os dedos, professor? O riso  de costas voltadas, escreva, escreva porque tem de ser. Lembro-me do não se lembrar nunca do meu nome, eu era só aquela das palavras. Lembro-me da não pertença a um sítio onde apenas fui no tempo. E hei-de me lembrar de  lhe querer perguntar agora, quantos átomos de carbono e hidrogénio tem a saudade, professor?

Ao professor Luis. S. Campos.


Pão de Ló Húmido de Chocolate




8 ovos
180 g de açúcar amarelo
10 gemas
85g de farinha com fermento
15 de cacau empó
30 de chocolate em pó

Pré-aqueça o forno a 230º. Bata os ovos com o açúcar durante 5 minutos com a batedeira. Bata as gemas e adicione ao preparado e bata mais dois ou três minutos. Misture a farinha, o cacau e o chocolate e envolva cuidadosamente a mistura na massa de ovos e açúcar. Leve ao forno numa forma redonda forrada a papel vegetal durante 11 minutos.

 Receita  do encantador livro  Cozinha para Dias Felizes da Isabel Zibaia Rafael

sábado, fevereiro 2

Manhã



Amanhecemos depois do que choveu lá fora, que a chuva nunca é na primeira pessoa.  Há o silêncio antes de nós, do ruído do corpo que espreguiça os olhos no mundo que é sempre para além da janela.  Amanhece nos lugar comuns dos dias, que  são esquinas, cantos feitos na esquadria do igual que temos dos outros. Amanhece-me nas letras onde chovo durante a noite branca das páginas.

( Ocorreu-me que esta seria uma boa estória de comer pela manhã)

Panquecas gregas 
(12 panquecas pequenas)



125 g de iogurte grego  natural e açucarado
2 ovos
150 g de farinha
2 colheres de sopa de açúcar
Sumo e raspa de meia laranja
1 colher de chá de fermento
1 colher de café de sal

Separe as gemas das claras. Bata as claras em castelo e reserve. Bata o açúcar com as gemas, junte o iogurte, a raspa e o sumo da laranja. Bata bem. Junte a farinha, o sal e o fermento alternados com as claras. Envolva cuidadosamente.
Deite colheradas numa frigideira aquecida. Quando a superfície  das panquecas fizer bolhas, volte-as. Sirva-as com mel e os frutos secos caramelizados.

Para  os frutos secos caramelizados
200g de mistura de amêndoa e nozes
2 colheres de sopa de manteiga
2 colheres de sopa de açúcar
1 colher de café de sal
Leve os frutos secos, a manteiga, o açúcar e o sal numa frigideira ao lume. Deixe caramelizar e depois deite sobre papel vegetal até arrefecer.