Saiu para sulfatar as primeiras flores do pomar. No próximo
Domingo não o quero ver com essa camisa preta, dissera-lhe a filha mais
velha com mesmo tom de voz com que
falava com os filhos. A Maria Júlia também vem? Não, a mais nova nunca vinha,
saíra de lá, no cedo dos mais novos, para a cidade. Mandava pela outra irmã uma
caixa de pasteis de nata e os móveis velhos desfeitos e pintados de outra cor.
É artista, dizia ele aos outros que perguntavam por ela. Descia o carreiro para
o pomar e quatro passos à frente dos dele as filhas, ainda pequenas, a correrem. Não o quero ver com essa camisa, ouviu? Atrás
dele, o silêncio da renda que a mulher nunca mais fizera, a crescer por entre o
cheiro do almoço. A mais nova a cair no carreiro. Não chores, não chorava, e os
mesmos olhos secos a fugirem do caixão aberto da mãe. Vista uma camisa branca, aquela dos Domingos.
Quantos Domingos tinha um ano de casa vazia? À volta do pomar, enquanto a
abotoava a camisa branca, viu os pasteis de nata na mesa e a cadeira vazia
pintada de um azul que destoava da madeira desbotada das outras cadeiras. A
filha mais velha ajeitou-lhe o colarinho, ora se não está melhor assim, e ele a
repetir baixinho o nome da mulher, Maria Arminda, Ma-ri-a-ar-min-da, o que diz,
está a rezar? Ele sorriu com os dentes
que já não tinha, pelo menos as letras dos nomes não mudam de cor.
Pastel de Nata desconstruído
1 l de leite
1 casca de limão
6 de gemas
150gr de açúcar
6 de gemas
150gr de açúcar
50gr de amido de milho
50gr de farinha
50gr de farinha
açucar em pó
canela
Aqueça o forno a 250º. Com o rolo, estenda a massa, pique-a levemente com um garfo e coloque-a entre duas placas de forno. Leve a cozer durante 15 minutos. Deixe arrefecer e corte-a em rectângulos iguais. Reserve.
Num tacho, ferva o leite com a casca de limão.
Deixe em infusão durante 10 minutos. Misture bem as gemas com o açúcar, a maisena e a farinha e adicione gradualmente o leite, sem parar de mexer. Deite de novo no tacho e leve ao lume até espessar. Cubra com película aderente para não secar e reserve.
Com o saco de pasteleiro, cubra 4 rectângulos de massa folhada com creme. Repita este processo até obter 3 camadas.
Polvilhe a superfície com o açúcar e queime com um maçarico. Polvilhe com canela e açucar em pó.
Receita de José Avillez retirada daqui
11 comentários:
A receita é de José Avillez e a ideia é genial! Um pastel de Nata desconstruído, como é que nunca tinha pensado nisso!
Não deixando de ser um folhado de nata, tem uma apresentação completamente diferente, mas sem deixar de lembrar o pastel de nata.
Muito bem desconstruído e construído :). Delicioso!
Sim, Doces em Casa a receita, tal como na referência no fim da receita indica, é do José Avillez.
E mal a vi no blogue in the mood for sweets pensei que a tinha de reproduzir :)
Um texto de deixar um nó na garganta e uma sugestão deliciosa que vou experimentar. Adorei. Beijos com carinho
Fiquei a babar-me! Que delicia.
Beijinhos e um bom fim de semana :)
Gostei muito deste pastel de nata desconstruído.
Bjns
Isabel
Não sei se no seu blog gosto mais da parte de ler ou da de comer :) E o seu post de hoje não acaba com a indecisão. Um texto maravilhoso e uma, também, maravilhosa desconstrução do pastel de nata.
Parabéns!
bela desconstrução.
beijinhos Cristina
Gostei verdadeiramente desta receita! Para dizer a verdade, AMEI! Parece ser bem mais simples, por incrível que pareça nunca me saem bem os pasteis, quer-me parecer que assim talvez consiga :-)
E fizeste muito bem em reconstruir a receita do Avillez!!
Está simplesmente maravilhosa!!!
Adoro esta pastel de natal!!
Beijinhos,
Mena.
Como a menina cá de casa disse ao ver a receita "que ideia brutal!!!, temos de destruir um por cá também."
Gostei muito e ficou guardado no caderninho para uma receita próxima. Bjs Margarida e Carolina
Mas quem se lembraria de pastéis de nata em versão vertical?!
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