Os fins de dia na terra eram ásperos e os fins de tarde
sabiam a pó. Depois da jorna, ela e o irmão sentavam-se debaixo da ginjeira do
quintal. Ficavam ali, no silêncio do que há-de ser, de olhos postos na curva do
caminho de terra batida que morria na estrada para Lisboa. Um dia faço-me à
estrada. Dizia, batendo-lhe ao de leve no joelho. E levo-te comigo. Ela
sorria, e imaginava-se de rosto colado na camioneta da carreira que dobrava a
curva da estrada de pó duas vezes por semana. Ao serão, as paredes caiadas e
mornas abafavam os vozes do pai e do irmão. Um dia faço-me à estrada e nunca
mais me põe a vista em cima, gritava o irmão. A mãe mexendo a compota que
fervia no tacho fingia não ouvir e ela sentada à mesa, com as unhas tintas
pelas ginjas dizia baixinho, em tom de reza de terço, leva-me contigo. Um dia
faço-me à estrada, mas só fez no dia em que o pai deixou de gritar por causa da
trombose. Trouxeram-no mudo e retorcido do lagar de azeite. Lá fora, na curva
de terra batida ainda viu o vulto do irmão entrando na camioneta da carreira. Leva-me
contigo, repetiu baixinho. A mãe fechou a porta, e o silêncio escorreu da
torneira da pia gotejante para o resto das noites. Leva-me contigo.
Bolo de amêndoa e doce de ginja
250g de amêndoa moída
4 claras
50g de manteiga sem sal derretida
50g de farinha com fermento
150g de açucar
1 chávena almoçadeira de ginjas descaroçadas
1 chávena de compota de ginja
Misture a amêndoa, a farinha e o açúcar. Junte as claras e
envolva bem. Adicione a manteiga e as ginjas e leve numa tarteira forrada com
papel vegetal no fundo, a forno pré-aquecido a 170º até ficar dourada.
Depois de fria cubra com o doce de ginja.
2 comentários:
Parece mesmo deliciosa!
Que texto delicioso.Pura literatura a sobrepor-se indevidamente à receita.
Um abraço de quem a adora ler acima de tudo (acho que já disse isso. Reiterar não faz mal)
Patrícia
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