Tinha um riso contido. Engolia as gargalhadas no pudor de
quem tem vergonha de estar feliz. O riso dela era pouco mais do que um sorriso
de lábios cerrados e um arquear das sobrancelhas amareladas. Os olhos claros,
escondidos por detrás das lentes míopes reprovavam as gargalhadas soltas e
claras da nora. Levantava-os , em tom de
reprovação, do livro que tinha sempre sobre a manta que lhe cobria os joelhos
retorcidos pelas artroses. Depois quando o silêncio da compostura voltava sala
onde moravam os sofás de veludo malva, baixava de novo os olhos sobre as letras
miúdas que corriam no papel amarelado e seco do livro. Passava os dias naquela cadeira de verga, com os remates desmanchados pelo tempo
lendo os livros que já lera e vendo filmes A cores, porque os a preto e branco
lhe pareciam desbotados de tempo e interesse. O filho trazia-os todas as sextas feiras do clube de vídeo ao
lado do emprego. Um filme e um cartucho com meia dúzia de suspiros cor de rosa.
Gostava especialmente das histórias de
amor. Das mulheres de cabeça inclinada, tronco arqueado para trás e lábios
semi-abertos. Dos rostos étereos, filtrados pelas meias de nylon. E quase sorria, dois instantes antes do
final. Mas os lábios cerravam-se e ela ficava na cadeira de verga, limpado os
óculos e dizendo, foi muito lindo. Não há nada mais lindo que um filme de amor.
Até que chegou aquele do miúdo italiano e do homem gordo e feio, que passava filmes
em bobines. Que deixou em herança, aos miúdo dos dentes tortos, todas as cenas
cortadas dos beijos. Ela sentada na sua cadeira de verga, primeiro sentiu-se
arrepiar, depois os lábios franzidos e cerrados comoveram-se e teve de levar a
mão à boca para esconder o sorriso que se antecipou às lagrimas que ficaram
presas nos cantos dos olhos.
Suspiros de morango
4 claras
8 colheres de sopa de açúcar
250g de morangos
2 ml de água
100g de açúcar
1 colher de chá de maisena
1 colher de chá de vinagre branco
Leve os morangos cortados em pedaços pequenos, com a água e os 100g açúcar
ao lume. Deixe ferver em lume brando por 15 minutos, coe e reserve o xarope e
deixe arrefecer completamente.
Bata as claras em castelos, junte as 8 colheres de sopa de açúcar e bata até obter
uma massa consistente. Junte o xarope, a maisena e o vinagre e bata mais um pouco.
Com um saco de pasteleiro, deite pequenas porções de suspiro
num tabuleiro forrado com papel vegetal e leve a forno pré-aquecido a 100º
durante cerca de uma hora.
Convidei para jantar o realizador Giuseppe Tornatore, e o seu filme Cinema Paradiso. Esta história de ler e de comer foi integrada na 4ª edição do Desafio "Convidei para Jantar", sendo a anfitriã desta edição a Pami Sami do Blogue Menu Verde.
8 comentários:
e convidaste muito bem, Cristina...
beijos doces
Olá Cristina! Estava com curiosidade por saber quem irias escolher... Os teus textos deixam-nos sempre a suspirar, por isso haveria lá melhor forma para receber este teu convidado especial?...
Dele lembro-me apenas do 'Malena', mas fiquei com vontade de ver mais!
Bem haja pela tua bonita participação!
Cristina,
Também estava cheia de curiosidade e de facto o teu convidado reflecte um pouco a ideia que faço dos teus gostos.
É um filme belíssimo já o vi muitas vezes.
beijinhos e obrigada pela participação.
Com essa ementa preferia ter sido eu a convidada! (risos)
Vou levar a receita comigo! :-)))
Grata pela partilha
Olá
Acabei de conhecer este blog que adorei. Já o estou seguindo para não perder as novidades.
Bjs
Adorei esse filme. Uma ternura do principio ao fim, então aquela cena final da pelicula de beijos...Até suspiro... :)
Beijinhos
Bom... por esse filme também eu faria uns quantos convites;)
Valeu a pena
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