Ao cimo das escadas em caracol havia uma sala, submersa na luz trémula e amarela que era coada pelos vidros martelados da janela. Nessa sala habitavam duas mulheres. Uma cujos os olhos só se iluminavam quando dançava, de braços tão esguios que apanhavam a música que escorria para os cantos da sala. Outra de cabelos ruivos e crespos e rosto quase invisível, porque dela só me lembro das mãos e dos sapatos velhos de atacadores sobre os pedais. A um gesto surdo da mulher dos braços esguios ela deixava cair os dedos sobre o piano e a luz deixava de ser trémula e ganhava a liquidez dos acordes. Ao cimo das escadas em caracol havia uma sala e duas mulheres. E muitos corpos, mornos, ainda sem formas, vestidos com maillots azuis. Corpos alinhados, ao longo de uma barra de madeira, tentando com os dedos ainda curtos da infância apanhar a música que lhes escorria pelos gestos. E havia a voz da mulher de braços esguios, que voava. Naquele tempo, parecia-me que ela podia voar, que voar é tudo o que fazemos para além de nós. Cerrava os olhos e imaginava que os meus braços, as minhas pernas, os meus medos perdiam o peso que os prendiam ao soalho empoeirado, e as dores dos músculos que se queriam ainda pequenos tornavam-se círculos e semicírculos cujos nomes a mulher de braços esguios soprava numa língua doce com sabor de poesia. Ao cimo das escadas em caracol havia uma sala, e havia eu, de braços curtos que só cresceram depois das palavras, das minhas palavras, que se dobraram no espaço para que eu pudesse dançar.
Tanto a historia de Ler, como a de Comer de hoje foram contadas na abertura da escola de Dança e Artes de Óbidos. Uma quase memória oferecida à equipa que tornou possível esta escola. Bem hajam!
Pavlova com lemon curd e frutos do bosque
10 claras à temperatura ambiente
350 gramas de açúcar granulado fino
1 colher de sopa de maizena
1 colher de sobremesa de vinagre de vinho branco
2 colheres de chá de baunilha
400g de mistura de frutos do bosque frescos ( framboesas, mirtilos e groselha)
200ml de natas + 1 colher de sopa de açúcar em pó
1 chávena de lemon curd
Bata as claras em castelo e depois adicione em chuva o açúcar. Bata até obter uma massa consistente, e adicione o vinagre, a baunilha e a maizena. Bata mais um pouco. Desenhe dois círculos em dois tabuleiros forrados a papel vegetal e divida a massa pelos dois círculos. Leve a forno pré-aquecido a 120º durante cerca de 1h.30m.
Bata as natas em chantilly juntamente com a colher de sopa de açúcar e reserve
Retire os merengues e deixe arrefecer completamente. Coloque um dos merengues num prato de servir e cubra com o lemon curd. Coloque o segundo merengue por cima e cubra com o chantilly e decore com os frutos vermelhos
* Receita da Pavlova, adaptada de Nigella Lawson
16 comentários:
Uma verdadeira tentação esses frutos ficarão 5* amei a receita, parabens pelo seu trabalho.
beijinhos
Memórias boas de um outro tempo em que sonhava poder voar um dia.
Muitos anos depois ainda voo, mas só em pensamento...
Saio daqui a salivar. Este doce é bom demais!
Obrigada, Cristine.
Beijo.
Era uma sala em que os sonhos dançavam um "pas de deux" gracioso e lindo!
Uma maravilhosa memória, um doce que é uma tentação.
Tudo perfeito.
beijinhos
Perfeito, a história, a receita ... a fotografia!!
Parabéns pelo blog!!
Nunca se devem dobrar
nem as escadas
Boa memória em texto limpo
A receita perfeita para acompanhar esta estória. Um encanto para ler e saborear.
bjs
Escreve-se muito bem por aqui...
Este vou copiar!
Continua sempre a dançar com as tuas palavras, pois adoro! :*
que dança doce.
beijinhos Cristina
O texto é primoroso. E essa doce foto abaixo...
Beijocas.
quem bom aspecto!!!
Maria
Assim à primeira vista, parece muito bem, mas depois reparo que é pavlova ( como eu detesto estas coisas arraçadas de suspiro), e depois lemon curd...andei desejosa de lemon curd semanas e semanas, depois de trifle com lemon curd e limoncello...e hoje de manhã acordei e enterrei-me em banhos marias e mexer até mais não, e tive a maior desilusão culinária dos últimos anos...a meio, dupliquei a dose de açucar, mas o lemon curd continua intragável, só sabe a uma mistura de molho que o meu sogro usa para pincelar o frango assado e a uma boca cheia de limões azedos...
Olá Margarida
A única explicação que posso encontrar para tamanho desastre de azedo de limão, será a própria acidez dos limões que utilizou. Pois 400g (uma vez que diz que duplicou a dose) de açúcar para 120ml de sumo limão é uma proporção que só pode mesmo resultar num lemon curd dulcissimo!
Outra ressalva que faço é perguntar-lhe se quando raspou a casca de limão, teve o cuidado de raspar apenas o vidrado ou se raspou também a parte branca, uma vez que esta é extremamente amarga.
Só pode ter sido do limão, e a raspa terá sido inocente.
De aspecto e consistência, ficou bom, bonito, sem grumos.
Vou voltar ao mingau ( o que desde sempre a minha mãe fez, e a que sempre chamámos este nome, que não são mais que papas de farinha maizna, leite, ovo, açucar e casquinha de limão).
E sempre há o molho que a sogra faz, com água e açucar em ponto de pérola e gemas, delicioso, translúcido, que arranha de doce na garganta...
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