terça-feira, novembro 20

Retrosaria



Comprava-me um bolo de arroz numa pastelaria que vendia os bolos grandes e retorcidos. Depois dobrávamos a esquina e entravámos numa loja onde as mulheres envelheciam à porta.  Fica cá fora para não deixares cair migalhas, dizia-me. Eu ficava encostada à soleira da porta, ao lado dos carrinhos de lona que cheiravam  a praça. Lá dentro, na penumbra forçada pela montra minúscula onde se exibiam batas e aventais, havia uma explosão de cores. As paredes eram  forradas com gavetinhas que tinham botões colados do lado de fora. Contadores gigantescos cheios de madrepérola e massa de quatro furos.  Atrás do balcão de madeira havia um expositor cheio de carrinhos de linha, ordenados como a minha caixa de lápis de cor. De que cor é  o anil, mãe?  Queria um carrinho de linhas verde garrafa . A dona, que era uma mulher de cabelo curto e crespo, aviava as mulheres sem rosto, cortando tecido barato com os dentes. O marido, sempre atrás do balcão,  fazia embrulhos com papel pardo, que na altura do natal era  branco com umas folhas de azevinho azuis. O filho mais velho andava a estudar para médico, um orgulho, dizia.   Queria um carrinho de linhas verde garrafa, repetiu a minha mãe. A dona fez um sinal ao marido. Ele sorriu contrariado e levantou a tampa de madeira do balcão. Entre, dona. E tire o carrinho, que eu não distingo as cores. O meu filho diz que sou daltónico.

Bolo de arroz




150 g de açucar
150 de farinha de trigo
75g de farinha de arroz
75 g de manteiga
2 colheres de chá de fermento em pós
3 ovos + leite ( perfazendo 250 ml)
1 colher de chá de extracto de baunilha
Raspa de limão q.b
Açúcar q.b

Bate-se o açúcar com a manteiga mole e o fermento até obter um creme de manteiga suave.
Junta-se os ovos e o leite e bate-se bem. Junta-se a raspa do limão e a baunilha.
Por fim, juntam-se as farinhas e envolvem-se até obter uma massa uniforme.
Leva-se, numa forma de bolo inglês, ao forno pré-aquecido,  polvilhado com açúcar para criar a crosta, a 200ºC por 5 minutos e a 180ºC até cozerem.

Receita do Sabores da Alma


12 comentários:

Candy Love disse...

Que bolo tão apetitoso! Tenho de experimentar a fazer ;)

Unknown disse...

esse bolo está com um aspeto maravilhoso.
Beijinhos

Vânia Costa disse...

Cristina,

Por incrível que te possa parecer à pormenores nesta estória que me são tão familiares e reais que até parece que os vivo na pele.
Sabes que antes de optar por seguir cozinha estudava design de moda e levava horas a fio nas retrosarias, perdida entre botões e galões, fitas de cetim e linhas de um milhão de cores?! :) e o meu noivo é daltónico ;)

Parabéns Cristina, a sério! Não podia haver estória melhor para estes lindos bolos! Obrigada pela partilha!

Um enorme beijo*

CNS disse...

Ainda bem que gostaste, Vânia :)

beijinho

Ondina Maria disse...

Penso que uma das farinhas utilizadas não seja de arroz e sim trigo para bolos, correcto?

CNS disse...

Sim, Ondina. Já está corrigido. Obrigada! :)

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

as estórias sempre bem aliadas à receita.

um beijo grande Cris

Ana Morais disse...

este bolo deve ser de cair para o lado :)

Blondewithaphd disse...

Sempre adorei retrosarias...
E este bolo...

Petiscos e Miminhos disse...

amei o texto e o boloooo

Carolina Macedo disse...

Não há nada como as histórias reais e um bonito bolo de arroz a acompanhar!! O bolo de arroz transporta-me para a infância, para outros cheiros, outras brincadeiras...

Uma delícia :)

PS: Não conhecia o blog mas já estou a seguir!

Filipa disse...

Tenho que experimentar fazer este bolinho:)

Http://styleloveandsushi.blogspot.com