quarta-feira, setembro 7

15

Às sete da manhã em ponto abria as portas de alumínio pintadas de verde. Desempilhava as sete cadeiras mancas, e deixava-as em volta das mesas já sem cantos. Quando pousava a ultima, chegava o elétrico,vindo de Algés. Dele descia, lentamente e de rosto fechado, a Rosa, que fazia os almoços para os homens da refinaria de açúcar e alguns velhos reformados. Ultimamente, aparecia também um grupo de estudantes da Tapada. Que só comiam alheiras. Iscas, nunca. Bom dia, senhor Manel. Na mão, a assadeira com o pudim de todas as quartas-feiras, tapado por um pano da louça com galos. Olá, Rosa, respondeu-lhe vendo o corpo farto desaparecer na penumbra do restaurante.  Enquanto limpava os  copos onde servia o bagaço, observava-a preparando o almoço. O rosto de boneca, sempre corado e os olhos empapados pela gordura. Os dedos grossos de unhas curtas, cortando rapidamente as batatas. Levou o antebraço à testa para limpar o suor. Boa rapariga, a Rosa, pensou. E saiu de novo para arrefecer a sua solidão de viúvo.  Conseguiu arranjar os caracóis, senhor Manel? Gritou a voz esganiçada lá de dentro. Boa rapariga, a Rosa, pensou de novo. Não,  gritou-lhe. Ficam para amanhã.  Ela chegou-se à porta de faca na mão. A outra pingava a água das batatas. Ficam para amanhã, repetiu ele. Olharam-se no silencio de todos os dias. Guarda-me uma lasca do teu pudim, Rosa. Disse-lhe com voz leitosa e olhos quentes. Ela não o viu. Sorriu envergonhada. Se sobrar, deixo. Hoje é quarta. Limpou a mão gorda ao avental. Os rapazes da Tapada não falham. Um risinho nervoso. Ele sentiu-se velho e tirou os óculos para limpar, enquanto a olhava de soslaio. Boa rapariga, a Rosa. O raio da solidão a arder-lhe de novo. Arranja-me uma cerveja fresca, Rosa. Hoje está um calor que não se pode.




Flan de forno

1 Chávena de açucar
1 Chávena de ovos
1 1/2 Chávena de leite
raspa de limão
Caramelo q.b
Manteiga para untar

Unte uma assadeira de vidro, com o máximo 5cm de altura,  com manteiga. Cubra o fundo com caramelo.  Bata o açúcar com os ovos, junte o leite e a raspa de limão. Leve a forno pré-aquecido a 200ºc, dentro de outra assadeira maior, com água ferver, e deixe cozer por 40 minutos, em banho maria, tapado por papel de alumínio  Deixe arrefecer completamente antes de desenformar.




5 comentários:

mfc disse...

Adorei este texto... em dueto soberbo!
Li-o com um sorriso nos olhos!

addiragram disse...

Bela escrita que tudo transmite!

Isabel J. disse...

Gostei muito, mais uma vez :D

Só é pena a solidão não se refrescar com cervejas!

:*

Luis Eme disse...

que belo pudim. :)

Maria disse...

A fazer o caminho do eléctrico. Há quantos anos não o faço?
E como é bonito ver acordar Lisboa às 6.30 da manhã, do T. do Paço até Algés...